terça-feira, 18 de dezembro de 2012





Análise Psicológica: A Sociedade do Anel

História do Filme.

O filme começa com a narrativa de como foram criados certos anéis, e posteriormente distribuídos os mesmos a líderes de três raças diferentes, tais anéis deveriam servir ao propósito da vontade de governar com paz e inteligência os reinos de cada raça.
Foram distribuídos: 3 anéis aos elfos,7 anéis aos anões mineradores e 9 anéis aos homens.
Mas o Um Anel estava em oculto no poder de Sauron, que forjou os anéis partilhados e forjara para si o Um Anel.
O Um Anel controlava todos os outros anéis e seus portadores, levando os à sua própria destruição.
E tal destruição chegou ao seu clímax com a batalha travada entre o exército de homens e elfos contra o exército de Sauron.
Sauron, senhor dos anéis, é derrotado, mas o Um Anel não é destruído.
Isildur, o líder dos homens, movido pela ganância e poderes mágicos do Um Anel, não atende aos apelos de Elrond, líder dos elfos, para que o anel seja destruído.
Isildur, em posse do anel maldito, é morto em uma emboscada e o anel cai no fundo de um lago por lá permanecendo durante 2500 anos.
Passados 2500 anos o Um Anel foi encontrado por um hobbit chamado Sméagol ele fica com o anel durante 500 anos, sendo encontrado posteriormente por Bilbo, este também pertencente à raça dos hobbits.
Sméagol, ou Gollum, fica furioso com Bilbo este quase o mata, mas sente pena do antes hobbit e agora criatura horrenda, deformado pelo longo período em que possuiu o anel.
Bilbo possuiu o anel durante 60 anos até que o anel foi descoberto pelo mago Gandalf.
Bilbo resolve partir do Condado, lugarejo dos hobbits não sem antes ter se tornado invisível na frente de toda a comunidade e do próprio mago por conta da utilização do anel.
Gandalf questiona Bilbo e exige que ele deixe o Um Anel para seu sobrinho, Frodo.
Frodo é instruído por Gandalf a respeito da origem do anel maldito e sobre a necessidade deste ser destruído. O mago orienta Frodo para que parta imediatamente, pois os naszgull, servos de Sauron que anteriormente foram homens e em virtude de terem sido portadores dos 9 anéis dados ao homens se tornaram espectros, virão em busca do anel. A informação de que o Um Anel estaria no Condado foi dada por Sméagol, ao ser torturado pelos orcs servos de Sauron. Frodo foge e conta com o auxílio de seu amigo Sam. Durante sua aventura os dois encontram Aragorn, o herdeiro do trono de Isildur. Aragorn os auxilia em sua fuga, porém, em um embate contra os naszgull a lâmina da espada de um dos espectros atinge o peito do hobbit.
Aragorn, Frodo e Sam partem então em direção a Valfenda, terra dos elfos governada por Elrond, o líder do elfos. Um conselho é estabelecido para se decidir o destino do Um Anel. Estão presentes: Elrond, Gandalf, Boromir, filho guerreiro do regente de Gondor – país dos homens-, Legolas, guerreiro elfo, Gimli, guerreiro anão e Aragorn, guerreiro e herdeiro do trono dos homens.
Fica decidido que Frodo será o portador do Um Anel e o levará até a Montanha da Perdição, local onde o anel foi forjado e único local onde o mesmo pode ser destruído. Também se reúnem Sam e dois outros hobbits; Merry e Pippin na missão de Frodo. Estava organizada a Sociedade do Anel.
A Sociedade do Anel foi formada por: Frodo, Sam, Merry Pippin, Aragorn, Legolas, Gimli, Boromir e Gandalf.
A comitiva enfrenta a fúria das investidas do mago Saruman nas montanhas sombrias. Este anteriormente fora um amigo de Gandalf, mas é agora um aliado e servo de Sauron, e dispara raios; o grupo logo percebe que deve mudar a trajetória de sua missão.
Tem início a jornada da Sociedade: eles partem rumo a Moria, a cidade e mina dos anões, mesmo a contragosto de Gandalf. Logo na entrada do portão da cidade ocorre um embate entre um polvo e os membros da Sociedade. A criatura é abatida e eles conseguem adentrar em Moria.
Sentam-se para descansar um pouco e um interessante e importante diálogo ocorre entre Gandalf e Frodo.
O velho mago conta que os anões de Moria, cavaram profundamente em busca de riquezas. E por conta disto, acordaram o Mal. Fica clara aqui, a ganância dos anões.
Os anões foram vítimas  de sua própria ganância, foram destruídos por ela.
Eles acordaram um antigo monstro chamado Balrog, criatura que destruiu os anões.
Gandalf conta  que, o Gollum – Sméagol, o hobbit que portou o anel durante 500 anos está seguindo o grupo há 3 dias. Ele diz a Frodo que Gollum ama e odeia o anel. Frodo diz que foi uma pena Bilbo não ter matado Gollum quando pode. Gandalf responde que a pena que segurou a mão de Bilbo e a  piedade  podem governar o destino de muitos.
Bilbo foi destinado a encontrar o anel, e Frodo destinado a carregar o anel.
E Gollum ainda tem um papel a cumprir, segundo o mago.
Toda esta fala de Gandalf é muito importante, pois fala a respeito de destino.
E de como Bilbo e Gollum, estavam destinados a cumprir seus papéis, em toda a obra de Eru Ilúvatar, deus criador de Arda - Universo. Uma batalha ocorre entre a Sociedade, orcs e um troll. Em seguida o grupo foge dos orcs e encontra o Balrog, antigo demônio. Gandalf diz aos membros da Sociedade para que sigam em frente enquanto ele confronta o monstro.
O mago e o monstro caem em um abismo. A comitiva do anel segue cabisbaixa devido à perda de um importante membro. A Sociedade segue para a Floresta dos elfos, reduto governado pela líder Galadriel. Galadriel, a Dama da Floresta, como é chamada, se vê testada pela possibilidade de possuir o Um Anel.
A elfo vence o teste e recusa a oportunidade de sucumbir frente ao poder do anel. A Sociedade recebe presentes mágicos dos elfos, tais como cordas, capas e uma espécie de lanterna, a luz de Erindim entregue a Frodo.
A comitiva do anel parte para sua jornada novamente. Desta vez, Boromir se sente tentado pelo poder do Um anel, ele tenta tomar o anel de Frodo. Frodo foge e o grupo é atacado por orcs a serviço de Saruman. Uma batalha árdua ocorre. Boromir morre, mas se redime antes tentando proteger Frodo.
Frodo entende que deve seguir sua jornada sozinho, para não trazer mais mortes e dores para seus companheiros de Sociedade. Merry e Pippin são sequestrados pelos orcs, Aragorn, Legolas e Gimli prosseguem unidos e Frodo e Sam seguem rumo a destruição do Um Anel na Montanha da Perdição.




Análise Simbólica

Os números dos anéis são interessantes, pois expressam um falso significado, quando analisados separadamente, pois o 3 exprime uma ordem intelectual e espiritual, a triunidade do ser a conjunção do 1e do 2, a Trindade cristã por exemplo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999).
Ao analisar o três deixando de lado o contexto do Um Anel, certamente poderia se pensar numa ordenação, em um governo de equilíbrio por meio dos três anéis confiados aos elfos. O 7 representa a conclusão do mundo e a plenitude dos tempos, criação do mundo no livro de Gênesis como exemplo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999). Os sete anéis enfim trariam um governo de plenitude à raça dos anões, se formos pensar apenas no 7 e deixar o Um em oculto.
E os 9 anéis entregues aos homens vêm simbolizar a medida das gestações  das buscas proveitosas, o coroamento dos esforços, o término de uma criação, o término de um ciclo e o início de um novo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999).
Finalmente os homens iriam desfrutar de um novo governo mediante ao contexto isolado do 9, mais uma vez não nos atendo ao Um. As três raças possuem 19 anéis (3+7+9), as três raças desconhecem a existência do Um Anel, que permanece aonde deseja estar, trabalhando em oculto.
O problema de Sauron e do Um Anel, simbolizam o problema da neurose.
Segundo JUNG, neurose significa:
Estado de desunião consigo mesmo, causado pela oposição entre as necessidades instintivas e as exigências da cultura, entre os caprichos infantis e a vontade de adaptação, entre os deveres individuais e coletivos. A neurose é um sinal de alarme que o induz a procurar um processo de cura pessoal. C.G.Jung: ´A perturbação psíquica de uma neurose e a própria neurose podem ser concebidas como um ato frustrado de adaptação. Esta formulação corresponde à opinião de Freud, para quem a neurose constitui, num certo sentido, uma tentativa de autocura`. ´A neurose é sempre o substituto de um sofrimento legítimo. ` (JUNG, 2002, pg.356, 357)
O Um está em oculto, Sauron trabalha em oculto na sombra, a consciência é enganada pela sua percepção de um governo melhor, quando na verdade caminha para sua própria destruição. Sauron simboliza o arquétipo da vontade de poder, permanecendo em oculto na sombra, um complexo autônomo, que pode trabalhar livremente em um Ego aprisionado em sua visão unilateral de mundo.
Quando o Um Anel é inserido no contexto dos 19 anéis, surge a verdade.
Pois agora temos a totalidade do problema, a quaternidade do problema da divisão dos anéis está resolvida; 3 anéis aos elfos +7 anéis aos anões + 9 anéis aos homens + 1 o Um anel de Sauron=20 anéis.
O 20 altera todo o pressuposto do prognóstico anteriormente dado aos governos por seus respectivos anéis dado às três raças, pois o 20 simboliza o número do homem, o homem tem 20 dedos, 4 x 5 = 20.  Se somarmos: 4 + 5 = 9 teremos o número de anéis recebidos pelos homens.
O 9 simboliza o fim de um ciclo e o início de um novo, isto é claro e explicitado  na obra pois é o fim da era dos elfos na Terra Média, e o início da era dos homens na Terra Média e sendo 20 o número dos anéis, 20 também é o número do homem.
No Hinduísmo a duração e o fim de cada era cósmica são de 432.000 anos, ou seja, 4+3+2=9.
E foi por conta do homem que o Um Anel não fora destruído; Isildur simbolizando o ego obstinado não dera ouvidos à voz de Elrond (inconsciente) para que jogasse o anel na lava e acabou sucumbindo.
 [...] também o inconsciente às vezes se manifesta de maneira estranha nos sonhos, são pensamentos inspiradores ou vozes bem nítidas que fornecem instruções bastante claras.
(VON FRANZ, 2008, p.119)

O Um Anel então ficou adormecido no fundo de um lago por 2.500 anos (uma referência clara aos conteúdos imersos no Inconsciente) e na posse de Smeagol / Gollum, por mais 500 anos até que Bilbo viesse se apossar do mesmo.
E o anel ficou também em posse de Bilbo por 60 anos. Na antiga Mesopotâmia eram utilizados dois sistemas de medições numéricas: a decimal e a sexagesimal.
De acordo com (CAMPBELL, 2004), a medida sexagesimal era baseada no soss (60), e até hoje utilizamos esta medida numérica; 60 segundos totalizam um minuto, 60 minutos totalizam uma hora, 360 graus um círculo.
O ano mesopotâmico constava de 360 dias, a morte e ressurreição de um ano então constavam de 360 dias.




Bem, se olharmos para esta totalidade de anos  :

- 2.500 anos, Um Anel no fundo do lago.

- 500 anos, Um Anel na posse de Smeagol/Gollum.
                                         
- 60 anos, Um anel na posse de Bilbo.

2500 + 500 + 60 = 3060 anos.                                                                                                 
                                                                                                       
E com esta quantidade de anos podemos inferir algumas coisas:

-          Sauron teria necessitado de 3060 anos para recuperar seu poder.

-          3+6=9, Sauron recupera suas forças na era dos homens .

-          20 número do homem, 3 foram as etapas de anos diferenciadas no processo de morte e ressurreição de Um Anel/ Sauron (1. fundo do lago , 2. posse de Smeagol/ Gollum e 3. posse de Bilbo),assim sendo: 60 totalidade sexagesimal / 3 etapas = 20 era do homem.

-          60 anos na posse de Bilbo, 60 minutos = 1 hora. Enfim chega: “A hora certa do despertar do Um Anel / Sauron”.

Chegada é a era dos homens, e aqueles que um dia foram homens e hoje são espectros, também são 9.
Os naszgull têm um papel de suma importância para Frodo, conforme vamos ver agora.









O Ritual de Iniciação

Se pensarmos sobre quem era Frodo e quem passou a ser Frodo pós a jornada do Anel, teremos um grande exemplo do que é um ego entregue ao processo de individuação. Como exemplos, de o que vem a ser um ego em jornada de individuação, têm o Cristo que diz: ´´ "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mateus 26:39). O Cristo (Ego) sabia que o sofrimento lhe aguardava. Mas caso ele objetivasse cumprir sua meta, deveria seguir a orientação do Self (Deus Pai). Jung define individuação da seguinte maneira:
´ Uso a palavra ´individuação` para designar um processo pelo qual um ser torna-se um “individuum” psicológico, isto é, uma unidade autônoma e indivisível, uma totalidade.
A individuação significa tender a tornar-se um ser realmente individual; na medida em que entendemos por individualidade a forma de nossa unicidade, a mais íntima, nossa unicidade última e irrevogável; trata-se da realização de seu Si - mesmo, no que tem de mais pessoal, e de mais rebelde a toda comparação. Poder-se-ia, pois, traduzir a palavra “individuação” por “realização de si mesmo”, “realização do Si – mesmo`. (JUNG,2002,p.355)

Uma das narrativas do filme diz o seguinte: “E os hobbits governarão o destino de todos”.
Na divisão dos anéis, os hobbits foram a única raça a não receber anel algum, os hobbits, da quaternidade das raças foi a raça desprezada, a menor raça, aquela tida com pouco ou sem valor.
Mais uma vez a simbolização da neurose aparece expressa, 3 raças receberam atenção e foram reconhecidas como sendo parte da totalidade (Terra Média) uma raça fora dissociada mesmo fazendo parte do todo.
E assim dependendo do grau de valor e ou importância dado ao inconsciente por parte do ego, ele aparecerá expresso em símbolos de tamanhos opostos. De um modo geral, o ego tem a falsa impressão de estar no comando do todo, O inconsciente em certas representações  aparece como alguém pequeno, tal como  Frodo, e a raça dos hobbits. Na Alquimia temos como o centro, o alvo, o objetivo a produção da lapis phiposophorum . Sobre a questão De Frodo e sua representação simbólica na lapis descreveremos mais adiante na parte referente a O Retorno do Rei.
Retomando o problema de Frodo, um hobbit pacato que nunca havia saído do Condado, que nunca sequer havia segurado uma espada, passa de repente a ter a responsabilidade de salvar toda a Terra Média.
Mas nada é fácil na jornada do processo de individuação. É necessário que se abra mão de certas coisas das quais já estamos acostumados a ter, acomodados a viver de determinadas maneiras e isso sempre provoca algum desconforto, alguma dor. E por vezes até a própria morte.
Frodo precisava morrer simbolicamente, antes de iniciar sua jornada, e foi o que aconteceu, quando o mesmo é atingido pela lâmina do naszgull.
Faz parte do ritual de iniciação do herói o auto-sacrifício: morre uma velha natureza, nasce uma nova natureza.
´´Ele deve deixar de lado o orgulho, a virtude, a beleza e a vida e inclinar-se ou submeter-se aos desígnios do absolutamente intolerável.`` (CAMPBELL, 1993,p.61)
A provação é um aprofundamento do problema do primeiro limiar e a questão ainda está em jogo: pode o ego entregar-se à morte? Pois muitas cabeças têm essa Hidra circundante; cortada uma delas, duas outras se formam — exceto se for aplicado, ao coto mutilado, o cauterizador apropriado. A partida original para a terra das provas representou, tão-somente, o início da trilha, longa e verdadeiramente perigosa, das conquistas da iniciação e dos momentos de iluminação.
                                         (CAMPBELL, 1993, p.62)

A cena do filme evidencia o aspecto do ritual de iniciação, de sacrifício, pois Frodo se encontra na torre de vigia, um local semelhante ao velho círculo de pedras do Stonehenge na Inglaterra, uma mandala de pedras empilhadas onde supostamente eram feitos rituais de sacrifícios humanos, segundo (CAMPBELL 2004).
Este texto é bem explicativo sobre a importância do papel do ritual de iniciação:

Moyers: E a mensagem das cavernas?
Campbell: A mensagem das cavernas é sobre uma relação entre o tempo e os poderes eternos, que de algum modo deve ser experimentada ali.

Moyers: Para que eram usadas essas cavernas?

Campbell: A especulação dos investigadores diz que elas tinham a ver com a iniciação dos meninos à caçada. Os meninos aprendiam não somente a caçar, mas a respeitar os animais, que rituais executar, e, em suas próprias vidas, como deixar de ser menino para ser homem. As caçadas você sabe, eram extremamente perigosas. Essas cavernas eram os primitivos santuários dos ritos masculinos, onde os meninos deixavam de ser os filhos das suas mães para se tornarem os filhos dos seus pais.

Moyers: O que me aconteceria se eu fosse uma criança e participasse de um desses ritos?

Campbell: Bem, não sabemos o que eles faziam nas cavernas, mas sabemos o que fazem os aborígenes da Austrália. Pois bem,quando o menino começa a ficar desobediente,um belo dia os homens chegam, e estão nus, exceto por umas esteiras de penas brancas, de ave, que eles grudaram na pele usando o próprio sangue como cola. Eles dançam e soltam mugidos de boi, que são vozes de espíritos, e os homens chegam ali como espíritos.
O menino tentará proteger-se junto à mãe, e ela fingirá que está tentando protegê-lo. Mas os homens simplesmente o tomam. Como você vê, a partir desse instante, a mãe deixa de ser útil. Você não pode voltar à Mãe, você está em outro campo.
Então os meninos são levados para fora, para o chão sagrado dos homens, e submetidos a duras experiências - circuncisão, subincisão, beber sangue humano, e assim por diante. Assim como tinham bebido o leite  materno quando crianças, agora bebem o sangue dos homens. Vão ser transformados em homens. Enquanto isso se dá, encenam-se episódios mitológicos dos grandes mitos. Eles são instruídos na mitologia da tribo. Então no final, são levados de volta à aldeia, e a menina com a qual cada um casará já foi escolhida. O menino retorna agora como homem. Ele foi arrancado da infância, seu corpo foi marcado de cicatrizes, a circuncisão e a subincisão foram cumpridas. Agora ele tem o corpo de um homem.  Não há como voltar à infância depois de um espetáculo desses.
(CAMPBELL, 1992, pg.85)


Frodo fora “circuncidado no coração”, em meio aos gritos dos espíritos (naszgull) e a cicatriz permaneceu, evidenciando que aquele Frodo do Condado estava morto. Nascia agora o Frodo da Terra Média.
Interessante notar que os espectros não podem ser mortos por homens, mas os mesmos temem o fogo.
´´Nesta perspectiva, o fogo, na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de regenerescência. Reencontra-se, pois, o aspecto positivo da destruição: nova inversão do símbolo. ``(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.443)
João Batista batizava com água, mas Jesus veio para batizar com fogo; Héracles derrotou a Hidra queimando com fogo os pescoços que tinham as cabeças cortadas; com o pescoço queimado, não nasciam mais as cabeças: a malignidade era extirpada de vez pelas chamas da iluminação.
´´ Todavia, a água é também purificadora regeneradora. Mas o fogo distingue-se da água porquanto ele simboliza a purificação pela compreensão, até a mais espiritual de suas formas, pela luz e pela verdade; [...]. ``(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.443)
Frodo tomou consciência de si mesmo e de seu caminho.
A iluminação pelo fogo simboliza o processo de tomada de consciência.

As Sociedades

Como vimos, para termos uma sociedade são necessários 9 membros, e este é o tema que dá título a esta primeira parte da obra.
Todo símbolo tem sua dualidade e assim como há a Sociedade do Anel (formada pelos 4 hobbits+2 homens+1elfo+1 anão+ 1 mago=9), há também o oposto desta sociedade, ou a sombra dela composta dos 9 espectros, ou reis bruxos.Aqui uma definição de símbolo:
 “Da atividade do inconsciente emerge agora um novo conteúdo, constelado por tese e antítese em igual medida e mantendo-se em relação compensatória com ambos. Portanto, forma o espaço intermédio em que os opostos podem ser unidos” (JUNG, 1991, parág. 825).

Dentro da Sociedade do Anel, há subdivisões:

-          A quaternidade dos hobbits: Frodo (função pensamento)X Sam (função sentimento), Pippin (função intuição) X Merry (função sensação).

-          A tríade: Aragorn, Legolas e Gimli.

-          O par de opostos: Gandalf X Boromir

Desta forma temos uma totalidade expressa pela quaternidade dos hobbits, porém a tríade composta demonstra que algo está faltando, ou seja, a destruição do Um Anel.
´´Entre os dogons e os bambaras o três é o número simbólico do princípio masculino – o seu glifo representa o pênis e os dois testículos. Além de símbolo da masculinidade, é também símbolo do movimento por oposição ao quatro*, símbolo da feminilidades e dos elementos. Para os bambaras escreve G. Dieterlen, o primeiro universo é 3, mas ele só é realmente manifestado, i.e., só tem consciência dele como o  4. O que faz com que a masculinidade (3), acrescenta ele, seja considerada pelos bambaras como um estímulo de começo, que determina a fecundidade, enquanto o florescimento e o conhecimento total desta só podem realizar-se na feminilidade.
                                  (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.901)

E o par de opostos entre Gandalf e Boromir nos remete  aos irmãos Castor e Pólux, um mortal o outro imortal, os dois ladrões ao lado de Cristo na cruz, um desce à mansão dos mortos e o outro sobe para o paraíso, da mesma maneira como Cristo  desce à mansão dos mortos e sobe aos céus posteriormente.
Boromir morre, Gandalf morre e ressurge.
Esta subdivisão em 3 partes da sociedade nos remete mais uma vez ao número de duração e término de uma era cósmica, 432.000 anos.
Pois 4 hobbits + 3 + 2 opostos= 9, A Sociedade do Anel.


Moria, Moiras e Moriá

            Começa a jornada da Sociedade do Anel. Como todo início de jornada, pressupõe-se um período de preparação para se enfrentar os obstáculos da longa estrada da individuação                                                                                           E tal período durou 40 dias de viagem pelas montanhas sombrias, número de dias este que remete ao período de transformação, vide as referências bíblicas, tal como o povo hebreu no deserto, Elias em sua caminhada e Cristo em seu jejum no deserto.
Em meio a este período de preparação, Gandalf era o mais cauteloso, provavelmente pelo fato de o Velho Sábio, ter a visão e o discernimento a respeito do futuro da Sociedade, e principalmente o seu individualmente.
O Velho, mesmo sendo rico na intuição, ainda temia seu futuro, sua demanda interna e sua transcendência.
Gandalf e os outros logo percebem que não estão sozinhos. Pois os corvos, espiões de Saruman, os observam e vão ao encontro de seu senhor relatar.
Gandalf estava temeroso, quanto à sua segurança e a de seus amigos e tentou conduzir o grupo por um caminho onde não fosse necessário passar pelas Minas de Moria.
O mago cinzento temia confrontar a obscuridade de um tempo muito antigo, e fez o possível para o grupo não ir em direção das Minas dos anões.
Mas quando o ego se rebela contra a soberania do Self, este se utiliza, dos recursos que bem entender para colocar a consciência em seu devido lugar; o caminho doloroso, porém libertador da individuação.
´´O Self existe desde o princípio, e, no processo de individuação é ele, geralmente,quem guia e regula o processo de crescimento interior.``(VON FRANZ, 2008, p.157)
Saruman, a sombra de Gandalf, vem perturbar os planos obstinados do ego. E provoca uma avalanche na montanha, impedindo a Sociedade de progredir rumo à sua derrota: o  grupo estava tomando o rumo no qual não passaria por Moria, e se o grupo não passasse por Moria, não iria ultrapassar importantes obstáculos ao processo de individuação. Ao chegar à frente do portão das Minas, Pippin começa a jogar pedras na água e é repreendido na mesma hora para não perturbar a água. Este é um gesto simbólico de acordar as forças das profundezas, ocultas em todos nós.
Um polvo gigante sai da água, e avança contra a Sociedade, um prenúncio do que estava por acontecer com o velho mago. Passada a ameaça aparente, todos entram nas Minas, sentam-se para descansar um pouco e um interessante e importante diálogo ocorre entre Gandalf e Frodo.
O velho mago conta que os anões de Moria, cavaram profundamente em busca de riquezas. E por conta disto, acordaram o Mal. Fica clara aqui, a ganância dos anões que termina por destruí-los.
Quando o ego se distancia dos objetivos propostos pelo Self, acaba por cair nas garras hostis e destrutivas do mesmo, no caso aqui, simbolizado pelos orcs e por Balrog responsáveis pela destruição dos anões. Gandalf conta que Gollum está seguindo o grupo há três dias. Ele diz a Frodo que Gollum ama e odeia o anel.
Frodo diz que foi uma pena Bilbo não ter matado Gollum quando pode. Gandalf responde que foi a pena que segurou a mão de Bilbo.  A piedade de Bilbo pode governar o destino de muitos.
Bilbo foi destinado a encontrar o anel, e Frodo destinado a carregar o anel.
E, Gollum ainda terá um papel importante a cumprir.
Toda esta fala de Gandalf é muito importante, pois fala a respeito de destino.
Ou seja, como todos estão predestinados pelo Self, a cumprir determinados objetivos. Na Terra Média temos a figura de Eru Ilúvatar, como sendo o deus criador, ele simboliza o Self.
Não sei se foi intencional, da parte de Tolkien ter dado o nome Moria, pela semelhança com o termo Moiras, ao local onde se localizam as Minas dos anões.
Os acontecimentos dentro das minas, anteriores a chegada do grupo, deixam impressões de paralelismos com a ação das Moiras, trabalhando nas ocorrências das sincronicidades.

´A palavra  grega  moîra  provém do verbo meíresthai, obter ou ter  em partilha, obter por sorte, repartir, donde Moîra é parte, lote, quinhão, aquilo que a cada um coube por sorte, o destino. Associada a Moîra tem-se, como seu sinônimo, nos poemas homéricos, a voz arcado-cipriota, um dos dialetos usados pelo poeta, Aîsa. Note-se logo o gênero feminino de ambos os termos, o que remete à idéia de fiar,ocupação própria da mulher: o destino simbolicamente é ´´fiado`` para cada um . De outro lado Moîra e Aîsa aparecem no singular e só uma vez na Ilíada, XXIV, 49, a primeira surge no plural.
O destino jamais foi personificado e, em conseqüência, Moîra e Aîsa  não foram antropomorfizadas:  pairam soberanas acima dos deuses e dos homens, sem terem sido elevadas à categoria de divindades distintas. A Moîra, o destino, em tese, é fixo, imutável, não podendo ser alterado nem pelos próprios deuses.
Há, no entanto os que fazem sérias restrições a esta afirmação e caem no extremo oposto: ´Aos olhos de Homero, Moîra  confunde-se  com a vontade dos deuses, sobretudo de Zeus. É bem verdade que em alguns passos dos poemas homéricos parece existir realmente uma interdependência, uma identificação da Moîra com Zeus, como nesta fala de Licáon a Aquiles:

´E a MOÎRA fatídica, mais uma vez, me colocou em tuas mãos: parece que sou odiado por ZEUS pai, que novamente me entregou a ti``

As Moîras são a personificação do destino individual, da ´parcela` que toca a cada um neste mundo.Originariamente, cada ser humano tinha a sua moîra, a saber,´sua parte, seu quinhão` de vida, de felicidade, de desgraça.`
´Impessoal e inflexível  a Moîra é a projeção de uma  lei que nem mesmo os deuses podem transgredir, sem colocar em perigo a ordem universal.`

´Essa Moîra, sobretudo após as epopéias homéricas, se projetou em três Moîras: Cloto, Láquesis e Átropos, tendo cada uma função específica, de acordo com sua etimologia:

CLOTO,em grego (Klothô com o aberto), do verbo (klóthein), fiar, significando, pois, Cloto, a que fia, a fiandeira.
Na realidade, Cloto segura o fuso e vai puxando o fio da vida.

LÁQUESIS, em grego (Lákhesis), do verbo (lankhánein), em sentido lato, sortear, a sorteadora: a tarefa de Láquesis é enrolar o fio da vida e sortear o nome de quem deve morrer.

ÀTROPOS, em grego (Átropos) de a (a, ´alfa privativo`), não, e o verbo (trépein), voltar, quer dizer, Átropos é a que não volta atrás, a inflexível .Sua função é cortar o fio da vida.
(BRANDÃO, 1997, pg. 140, 141, 230, 231)

Gimli que anteriormente descrevera da hospitalidade de seu povo e de seu primo Balin, encontra restos mortais de um anão e lamenta, a morte do primo.
sombra, se repete, desta vez em um poço. Uma batalha ocorre entre a Sociedade, orcs e um troll.
Em seguida o grupo foge dos orcs e encontram o Balrog.
Gandalf compreende que sua hora chegou, é a hora da renúncia do ego.
E aqui há uma semelhança no nome do local onde estão situadas as Minas dos Anões.
Moriá é o nome da terra onde se localizava o monte onde Javeh ordenou que Abraão sacrificasse seu filho Isaque.
Embora Abraão não tenha sacrificado seu filho no Monte Moriá, ele sacrificou a vontade de seu próprio ego, ouvindo a voz do Self.
Gênesis 22; 1-19.

Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: "Abraão!" "Eis-me aqui", respondeu ele.
Deus disse: "Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar."
No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou consigo dois servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha indicado.
Ao terceiro dia, levantando os olhos, viu o lugar de longe.
"Ficai aqui com o jumento, disse ele aos seus servos; eu e o menino vamos até lá mais adiante para adorar, e depois voltaremos a vós."
Abraão tomou a lenha do holocausto e a pôs aos ombros de seu filho Isaac, levando ele mesmo nas mãos o fogo e a faca. E, enquanto os dois iam caminhando juntos,
Isaac disse ao seu pai: "Meu pai!" "Que há, meu filho?" Isaac continuou: "Temos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto?"
"Deus, respondeu-lhe Abraão, providenciará ele mesmo uma ovelha para o holocausto, meu filho." E ambos, juntos, continuaram o seu caminho.
Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; colocou nele a lenha, e amarrou Isaac, seu filho, e o pôs sobre o altar em cima da lenha.
Depois, estendendo a mão, tomou a faca para imolar o seu filho.
O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: "Abraão! Abraão!" "Eis-me aqui!"
"Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único."
Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho.
Abraão chamou a este lugar Javé-yiré, de onde se diz até o dia de hoje: "Sobre o monte de Javé-Yiré."
Pela segunda vez chamou o anjo do Senhor a Abraão, do céu,
e disse-lhe: "Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei.
Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos,
e todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela, porque obedeceste à minha voz."
Abraão voltou então para os seus servos, e foram juntos para Bersabéia, onde fixou sua residência. (Gênesis, 22; 1-19)
Abraão em Moriá sacrificou o desejo de seu ego. Gandalf em Moria sacrificou seu desejo egóico também.
É tempo de Gandalf, confrontar sua sombra, embora ele diga em vão ao Balrog para que este volte para a sombra. Mas não é o conteúdo hostil que deve descer as profundezas das trevas novamente, e sim Gandalf quem deve realizar a catábase.
O mago se rende, pois sabe do propósito transformador que tal experiência lhe proporcionará, mas o resto da Sociedade, não entende os propósitos de Eru, tanto que o velho sábio em uma postura de altivez, digna de tal arquétipo diz a Frodo: ´´Corram seus tolos!``
Tolos? Sim, pois não entendem a visão e o propósito da totalidade do Self. O grupo lamenta e seguem para o refúgio revitalizador da Floresta de Lothlórien, o reino da Dama da Floresta.
A Grande Mãe da Terra Média, a anima de Frodo, Galadriel.
O grupo recebe presentes dos elfos: as capas, as cordas e a luz de Erindim entregue a Frodo: ´´Que haja uma luz, para você no escuro quando todas as outras se apagarem.``
A Sociedade parte de Lórien. Boromir sucumbe frente ao desejo de poder e tenta se apossar do anel. Antes de morrer, porém, consegue se redimir: seu papel está cumprido na jornada.
Boromir fora destinado a dispersar os hobbits. Tal dispersão teve o objetivo de encaminhar Merry e Pippin aos Ents e Frodo e Sam até Mordor. Mais um vez vemos a atuação das Moîras.
Talvez uma frase de Gandalf sintetize bem o que ocorreu desta segunda parte em diante, até o fim  da jornada:
´´O que nos cabe é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.``
No livro de Salmos 139; 16 temos o seguinte versículo. ´´os teus olhos viram o meu corpo ainda informe.Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda.``
O versículo do Salmo 139, também nos dá um exemplo arquetípico da regência do Self sobre a psique.
O Self escreve o projeto, o ego o executa.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ANÁLISE PSICOLÓGICA: BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS




 

O CAVALEIRO das trevas. Direção: Christopher Nolan, Produção de Christopher Nolan, Charles Roven e Emma Thomas, Roteiro de Jonathan Nolan e Christopher Nolan, baseado em estória de Christopher Nolan e David S. Goyer e nos personagens criados por Bob Kane. EUA: Warner Bros. Pictures, Legendary Pictures, DC Comics e Syncopy, 2008. 2DVDs (152min), son; color.


RESUMO DA HISTÓRIA

            A trama é uma continuação de Batman Begins, mostrando Batman no combate ao crime organizado de Gotham City. Bruce Wayne, milionário e empresário é o portador da identidade secreta do herói. Em sua jornada, ele conta com a ajuda de seu fiel mordomo Alfred Pennyworth, o cientista e presidente das empresas Wayne, Lucius Fox e o tenente James Gordon. A cidade de Gotham começa a sofrer com os crimes praticados por um novo criminoso que começa a ascender no submundo do crime, o Coringa. Rachel Dawes, advogada da promotoria pública, amiga e interesse amoroso de Bruce Wayne, inicia um caso amoroso com o promotor público Harvey Dent. Ambos, juntamente com o tenente Gordon, estão investigando os negócios ilegais dos mafiosos.       

Bruce vê em Harvey um meio de acabar com a criminalidade na cidade, o promotor é um dos poucos homens honestos restantes dentro do exercício da justiça pública. Batman, Gordon, Harvey, apelidado de o cavaleiro branco, e Rachel unem seus esforços no encalço, busca e condenação dos criminosos e começam a obter êxito com as dezenas de sentenças de culpados. Porém, o quarteto da justiça não contava com a associação dos mafiosos com o Coringa. O palhaço do crime planeja e executa mortes; da juíza que condenou os mafiosos, do comissário de polícia e de um inocente civil, inclusive enviando uma fita gravada com o assassinato deste para as redes de televisão.             

No vídeo, o Coringa pede que Batman mostre sua verdadeira identidade. Caso contrário, uma ordem de mortes irá ocorrer pela cidade. Bruce pensa em se entregar, mas acaba sendo impedido pelo fato de Harvey confessar falsamente na frente das câmeras de TV, ser ele o portador da identidade secreta do herói. O promotor é preso, e tem início uma violenta perseguição ao carro policial que transporta Harvey, envolvendo o Coringa no encalço do carro e Batman na busca pelo palhaço do crime. Batman e o tenente Gordon, conseguem deter o Coringa. Gordon é promovido para comissário de polícia. O plano do cavaleiro branco, de atrair o criminoso de mente doentia e prendê-lo, aparentemente obtém êxito, mas só aparentemente. Com a prisão do Coringa, todas as atenções estariam voltadas justamente para esta operação, tornando os cuidados com a segurança de Rachel e Harvey, muito mais precários. Devido ao grande número de policiais corruptos dentro da corporação, o sequestro da advogada e do promotor, planejado pelo palhaço, pôde ser concretizado. Eles são sequestrados e aprisionados em endereços distintos, ambos amarrados em uma cadeira, com tonéis de gasolina e uma bomba em seus respectivos cativeiros. Enquanto isso, o criminoso é interrogado e esbofeteado pelo homem-morcego. O palhaço confessa onde eles estão e alerta Batman de que este terá de escolher ou salvar sua amada Rachel ou salvar o justo promotor, pois o tempo é insuficiente para salvar os dois. Batman salva Harvey, mas os policiais falham no resgate da advogada, ela morre na explosão do prédio.                            

Ao mesmo tempo, na delegacia, o Coringa foge após a explosão de uma bomba que estava alojada no estômago de um detento recém chegado. Batman fica desolado com a morte da amiga e amada, este é consolado e aconselhado pelo mordomo Alfred, Harvey que sofreu uma intensa queimadura em sua face, fica furioso com a morte de sua namorada. Harvey é internado em um hospital e recusa-se a receber enxerto de pele na região profundamente destruída pela queimadura. Na TV, um homem que prestou serviços para as Empresas Wayne, diz conhecer a real identidade secreta do homem morcego. No exato momento da entrevista, o Coringa, por telefone faz um apelo a população de Gotham. A população ou quem quer que seja terá um determinado período de tempo para assassinar o delator, antes que ele conte a identidade secreta de Batman. Caso o assassinato não seja realizado dentro do período determinado pelo palhaço criminoso, este explodirá um hospital. Inicia-se uma situação caótica nas ruas de Gotham, hospitais sendo esvaziados, pacientes removidos, pessoas querendo invadir a emissora de TV para assassinar o delator, sendo que até um policial tenta matar este homem. Enquanto isso o Coringa faz uma visita a Harvey e com um discurso persuasivo e manipulador o criminoso de mente doentia se auto-intitula apenas um agente do caos e afirma que os verdadeiros responsáveis pela morte de Rachel tinham sido Gordon e Batman. O promotor ferido físico e emocionalmente, parece estar frágil e receptivo às palavras do palhaço. Harvey foge e o Coringa explode o hospital. Harvey, agora se auto-intitula o Duas Caras, inclusive fazendo o uso de uma moeda para decidir se realizará ou não seus atos de assassinato contra os envolvidos no sequestro e morte de Rachel, com cada pessoa respectiva, alguns são mortos por ele, outros salvos pela sorte do jogo de cara ou coroa. O agente do caos anuncia em rede de TV que tomará toda a cidade de Gotham ao cair da noite; a desordem e o pânico tomam conta dos cidadãos. Rodovias, barcos e balsas que conduzem pessoas em destino a saída da cidade, encontram-se lotadas e agoniadas. Em duas embarcações, o Coringa instalou duas bombas e deixou os controles que acionam as bombas em barcos distintos.                          

Em um barco no qual há somente presidiários está o controle da bomba do barco dos civis comuns. No outro barco, estão os civis comuns com o controle que aciona a bomba instalada no barco dos presidiários. O palhaço do crime faz um pronunciamento via auto-falantes simultaneamente para os dois barcos. Ele comunica a existência das bombas instaladas nos dois barcos, avisa que o controle que aciona a bomba do barco dos civis está no barco dos presidiários. E, que o controle que aciona a bomba no barco dos presidiários, está no barco dos civis. O agente do caos informa que o barco que optar em destruir o outro, estará a salvo.                                                              Caso nenhum dos barcos opte em destruir o outro até a meia noite daquele dia, ambos serão explodidos pelo Coringa. Logo surge o clima de tensão e indecisão nas duas embarcações, porém, os tripulantes dos dois barcos decidem por não acionar o controle que explodirá o outro. Batman, enquanto isso tenta localizar o paradeiro do palhaço do crime, através de uma tecnologia desenvolvida por Lucius Fox, que funciona como um sonar localizador. Para que a tarefa fosse possível, o homem morcego havia instalado os sonares em cada telefone celular presente em Gotham.                                    

Ação esta, que deixou Fox moralmente contrariado em relação à utilização e a serventia desta tecnologia. Batman, já prevendo que o cientista talvez se recuse a auxiliá-lo na busca pelo criminoso, pede que ao término da missão Fox digite seu nome. Desta forma, os controles dos sonares seriam destruídos, perdendo sua utilidade definitivamente. Com o auxílio do cientista, o homem morcego localiza o agente do caos, o impede de explodir os barcos e o mantém preso suspenso por um cabo para que a polícia possa levá-lo ao distrito policial. Coringa diz ao Batman que ele conseguiu pegar o cavaleiro branco, Harvey Dent, e rebaixou-o ao nível dele e do homem morcego. O herói não entende, o palhaço em tom triunfante diz para o cavaleiro das trevas esperar até ver quem se tornou Harvey Dent. Duas Caras está solto e buscando vingança contra Batman e Gordon, aqueles que ele acredita terem sido os grandes responsáveis pela morte de Rachel. O ex-promotor e agora assassino, rapta a mulher e o filho de Gordon. Batman é avisado pelo comissário e vai até o local onde estão Gordon, sua esposa, filho e o Duas Caras. O assassino começa seu jogo de cara ou coroa para decidir na sorte, quem irá morrer e quem sobreviverá.                                               

Gordon tem sorte, Batman não, recebe um tiro e aparentemente é abatido. Quando a sorte parece não estar ao lado do filho do comissário e este está prestes a receber um tiro, o herói se levanta e derruba Duas Caras de uma grande altura. O ex-promotor morre, Batman inicia um discurso responsabilizando-se pelas mortes e assassinatos. O homem morcego fala que quando se vive tempo demais como herói acaba por se tornar o vilão. E que assim sendo, ele Batman, tem a capacidade de ser as duas coisas, o herói e o vilão. Gordon se entristece com o que ouve, mas compreende que esta é a jornada do cavaleiro das trevas.

LEITURA ANALÍTICA
         Sob o ponto de vista da psicologia analítica, o filme retrata a difícil arte de se conciliar os opostos que há na psique dos indivíduos, a união da consciência com o inconsciente. Na jornada da individuação, temos de nos deparar com questões que, nas muitas vezes, acabamos por negar, reprimir ou protelar. Em boa parte das situações, as questões são relacionadas a um senso maniqueísta, sobre o certo e o errado. Em O Cavaleiro das Trevas, temos um exemplo de trágica dissolução da personalidade no caso de Harvey Dent e Duas Caras e um exemplo de sucesso da integração de conteúdos na consciência nos caso de Bruce Wayne e Batman. No exemplo de integração com sucesso, temos duas formas de ver a estrutura da psique uma com o ego sendo simbolizado por Bruce Wayne, a outra, como sendo Batman. Para a psicologia analítica, o ego é o sujeito da consciência.
 Entendo o´eu` como um complexo de representações que constitui para mim o centro de meu campo de consciência e que me parece ter grande continuidade e identidade consigo mesmo.
Por isso, falo também do complexo do eu.
O complexo do eu é tanto um conteúdo quanto uma condição da consciência (v.), pois um elemento psíquico me é consciente enquanto estiver relacionado com o complexo do eu.
Enquanto o eu for apenas o centro do meu campo consciente,,não é idêntico ao todo de minha psique,mas apenas um complexo entre outros complexos.
Por isso distingo entre eu e si - mesmo. O eu é o sujeito apenas de minha consciência, mas o si - mesmo é o sujeito do meu todo, também da psique inconsciente, dentro dele o eu. (JUNG, 1991, p.796, pág.406)


            No início da trama vemos Bruce Wayne dando pontos em feridas que foram geradas após uma noite de missão como Batman. O mordomo Alfred alerta seu patrão lhe dizendo que Bruce tem limites. O milionário responde dizendo que Batman não tem limites. Nesta fala, Wayne atribui qualidade de autonomia para o homem morcego, como se este fosse uma personalidade paralela e independente de si. Batman, neste contexto, simboliza a sombra de Bruce.
´Sombra`: A parte inferior da personalidade. Soma de todos os elementos psíquicos pessoais e coletivos que, incompatíveis com a forma de vida conscientemente escolhida, não foram vividos e se unem ao inconsciente, formando uma personalidade parcial, relativamente autônoma, com tendências opostas às do consciente. A sombra se comporta de maneira compensatória em relação à consciência. Sua ação pode ser tanto positiva como negativa. No sonho, a sombra tem frequentemente o mesmo sexo que o sonhador. Enquanto elemento do inconsciente pessoal, a sombra procede do eu: enquanto arquétipo do ´eterno antagonista, procede do inconsciente coletivo. A tarefa do início da análise é tornar a sombra consciente. Negligenciar e recalcar a sombra ou identificar o eu com ela pode determinar dissociações perigosas. Como ela é próxima do mundo dos instintos, é indispensável levá-la continuamente em consideração. C.G.Jung: ´A sombra personifica o que o indivíduo recusa conhecer ou admitir e que, no entanto, sempre se impõe a ele, direta ou indiretamente, tais como os traços inferiores do caráter ou outras tendências incompatíveis`.´A sombra é...aquela personalidade oculta, recalcada, frequentemente inferior e carregada de culpabilidade, cujas ramificações extremas remontam ao reino de nossos ancestrais animalescos, englobando também todo o aspecto histórico do inconsciente...Se, antes,era admitindo que a sombra humana representasse a fonte de todo o mal, agora é possível, olhando mais acuradamente, descobrir que o homem inconsciente, precisamente a sombra, não é composto apenas de tendências moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas qualidades, instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas, impulsos criadores, etc.`(JUNG, 2002, pág.359)

            Embora o ego possa sofrer com determinados conteúdos advindos da sombra, notamos ao longo do filme que Bruce não vive em função da sombra.As cenas do filme mostram que ele consegue conciliar a vida pessoal do milionário, boêmio e empresário com a vida de combate ao crime do cavaleiro das trevas. Uma boa parte da responsabilidade, na qualidade de vida que Bruce Wayne tem, se deve ao tipo de relação que sua consciência tem com a anima. A anima aparece simbolizada pela advogada Rachel Dawes.

Tal imagem é, no fundo, um conglomerado hereditário inconsciente, de origem remota, incrustada no sistema vivo, tipo de todas as impressões fornecidas pela mulher, sistema de adaptação psíquico herdado..., esta imagem é sempre projetada inconscientemente no ser amado; ela constitui uma das razões essenciais da atração passional e de seu contrário. ´A função natural do animus (como a da anima) consiste em estabelecer uma relação entre consciência individual e o inconsciente coletivo. ` ´A anima é o arquétipo da vida... pois a vida se apodera do homem através da anima, se bem que ele pense que a primeira lhe chegue através da razão (mind). Ele domina a vida com o entendimento, mas a vida vive nele através da anima. (JUNG, 2002, págs. 351, 352)

            A relação de Bruce com Rachel é marcada pelo paradoxo da proximidade e da distância. Ela o inspira a ter a vida que têm, sua condição de ser milionário empresário e homem morcego, acaba por criar afastamento e proximidade entre os dois dependendo do momento. Um importante fator é necessário para que a consciência consiga integrar os conteúdos inconscientes, a atividade do Self. Neste contexto, onde Bruce Wayne simboliza a consciência, Alfred simboliza o arquétipo do velho sábio, um símbolo do Self no inconsciente masculino.

 O Velho Sábio aparece nos sonhos como mago, médico, sacerdote, professor, catedrático, avô ou como qualquer pessoa que possua autoridade. O arquétipo do espírito sob a forma de pessoa humana, gnomo ou animal manifesta-se sempre em situações nas quais seriam necessárias intuição, compreensão, bom conselho, tomada de decisão, plano, etc; que no entanto não podem ser produzidos pela própria pessoa. O arquétipo compensa este estado espiritual de carência através de conteúdos que preenchem a falta. (JUNG, 2003, p.398, pág.213)
´ O si - mesmo é o centro e também a circunferência completa que compreende ao mesmo tempo o consciente e o inconsciente: é o centro dessa totalidade, como o eu é o centro da consciência.` ´O si - mesmo é também a meta da vida, pois é a expressão mais completa dessas combinações do destino que se chama: indivíduo.` (JUNG, 2002, pág.358)

            Alfred está sempre aconselhando e ou auxiliando Bruce em todos os aspectos, tanto os relacionados à Bruce Wayne o milionário como também as questões ligadas a Batman. O mordomo foi o tutor de Wayne durante sua infância e continua orientando-o na idade adulta. No primeiro exemplo de integração, como Bruce Wayne simbolizando o sujeito da consciência, temos a seguinte estrutura:

·         Bruce Wayne/ ego.
·         Batman/ sombra.
·         Rachel Dawes/ anima.
·         Alfred/ Self
.
            No segundo exemplo de individuação, sendo o ego simbolizado por Batman, os desafios se tornam maiores e o perigo de desintegração da personalidade, se torna uma ameaça muito próxima do cavaleiro das trevas. Agora, Bruce Wayne simboliza a persona de Batman.

 C.G.Jung: ´ A persona... é o sistema de adaptação ou a maneira por que se dá a comunicação com o mundo. Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua persona característica... O perigo está, no entanto, na identificação com a persona; o professor com seu manual, o tenor com sua voz... Pode se dizer, sem exagero, que a persona é aquilo que não é verdadeiramente, mas o que nós mesmos e os outros pensam que somos.`    (JUNG, 2002,pág.357)

            Bruce Wayne é o papel social de Batman, a forma como ele se mostra para todos e assim todos imaginam que ele seja desta maneira. Bruce é o milionário, empresário e chega até mesmo a impedir que o seu delator sofra um sério atentado, quando este sai com seu Lamborghini Murciélago pelas ruas de Gotham, em meio ao pânico da ameaça do Coringa de explodir um hospital. O Coringa simboliza a sombra de Batman.                        
O agente do caos não têm a natureza de uma sombra pessoal, e sim a de uma sombra arquetípica. Batman tem como objetivo trazer ordem para Gotham City, mas antes terá de se defrontar com seu adversário e sair de um estado de dissociação de si próprio.Tal destruição e violência contidos na imagem do palhaço do crime, são aspectos que precisam serem integrados na consciência a fim de fortalecimento do ego, e não de dissolução. Batman obtém êxito, ele consegue se apropriar das características presentes no Coringa para confrontá-lo. Ao instalar sonares nos celulares de Gotham, o cavaleiro das trevas, agiu sem escrúpulos, não se importou com regras e ou limites, tal como o próprio Coringa faria. A ajuda do Self é imprescindível na meta da individuação, desta vez o Velho Sábio, aparece simbolizado por Lucius Fox.                           
Sem a ajuda e ou tecnologia de Fox, Batman, não existiria. Foi o cientista quem lhe forneceu a armadura, o batmóvel e a ajuda na caça ao Coringa, operando na sala de sistema de controles dos sonares espalhados por Gotham. Ao admitir a responsabilidade das mortes, do civil inocente, da juíza, do comissário e de sua amada Rachel Dawes, Batman conscientizou-se de seu lado destrutivo e sombrio. O Cavaleiro das trevas consegue enxergar seu lado de senso de justiça e o destrutivo ao mesmo tempo. De acordo com tal contexto, temos a seguinte estrutura:

- Bruce Wayne / persona.
- Batman / ego.
- Rachel Dawes / anima.
- Coringa / sombra.
- Lucius Fox / Self
.
            Porém, nem sempre a integração de opostos é realizada com sucesso. O exemplo trágico é simbolizado por Harvey Dent. O cavaleiro branco como era chamado o promotor de justiça, também tinha o apelido de Duas Caras. Pois, sempre se utilizou de uma moeda em certos momentos, para tomar decisões. A morte de Rachel foi o evento no qual o ego do promotor se enfraqueceu. O fato é que a consciência de Harvey não pode suportar a pressão dos conteúdos do inconsciente e veio a sofrer com a dissolução de sua personalidade. O ego não teve forças o suficiente para suportar a integração da injustiça presente na sombra de um ego que só consegue se admitir como sendo o promotor de justiça. Harvey cinde com a realidade, consequentemente se torna psicótico. A desfiguração dê seu rosto simboliza a dissolução do seu ego de Harvey, efeito da psicose.

Antes do início da doença, existe atitude habitual da consciência que já não é apropriada. Mas existe também dificuldade em renovar a consciência, motivo pelo qual o novo fator que deve ocasionar a mudança assume a forma de complexo autônomo no inconsciente. O complexo atrai para si a energia psíquica, resultando na debilitação da consciência, com a conseqüente perda de energia e de confiança (abaissement du niveau psychologique, P. Janet). O enfraquecimento da consciência no abaissement permite que o complexo penetre na consciência. Como resultado, a antiga ordem é derrubada, e em seu lugar surge um distúrbio que clinicamente possui o caráter da psicose aguda. (FIERZ, 1997, pág.145)

            Quando observamos a dinâmica da psique do povo alemão diante do fenômeno do nazismo, podemos compreender de maneira bem clara, o funcionamento e ou irrupção da psicose na consciência. Com a derrota na primeira guerra, o enfraquecimento da consciência alemã, se tornou um terreno muito propício para a manifestação das forças compensatórias adormecidas do inconsciente. Situação semelhante ocorreu com Harvey Dent, após a morte de sua amada Rachel.
Quando essa espécie de movimento compensatório do inconsciente não consegue ser absorvido pela consciência individual, pode gerar uma neurose ou até uma psicose, e o mesmo vale para o coletivo. É evidente que para se produzir um movimento compensatório desse tipo é preciso que algo esteja fora de ordem na atitude consciente; algo deve estar invertido ou fora de proporções, pois somente uma consciência desequilibrada pode provocar um movimento contrário no inconsciente. (JUNG, 1990, p.448, pág.40)
            O cavaleiro branco sofreu a dissolução da consciência. Mas, quando a consciência consegue suportar a tremenda tensão da integração de opostos, surge a ordenação na psique. O cavaleiro das trevas alcançou a ordenação psíquica, fruto da integração dos conteúdos inconscientes. Embora tenha sido destruído, o bat-sinal projetado nos céus para chamar Batman é um símbolo desta ordenação, uma mandala, que expressa a totalidade.
Por outro lado, caso o indivíduo seja capaz de se agarrar a um último resto de consciência ou de preservar os vínculos de relacionamento humano pode surgir no inconsciente, justamente através da confusão do entendimento consciente, uma nova compensação que possivelmente será integrada pela consciência. Apareceriam novos símbolos de natureza coletiva que refletiriam agora forças de ordenamento.                           Medida, proporção e ordenamento simétrico encontram-se nesses símbolos em sua estrutura singularmente matemática e geométrica. Representam uma espécie de eixo e são conhecidos como mandalas. (JUNG, 1990, p.450, pág.41)

REFERÊNCIAS

FIERZ, Heinrich Karl, Psiquiatria Junguiana, São Paulo, Paulus, 1997.
JUNG, Carl Gustav, Aspectos do drama contemporâneo, Petrópolis, Vozes, 1990.
JUNG, Carl Gustav, Memórias, sonhos e reflexões, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2002.
JUNG, Carl Gustav, Os arquétipos e o inconsciente coletivo, Petrópolis, Vozes, 2003.
JUNG, Carl Gustav, Tipos psicológicos, Petrópolis, Vozes, 1991.