terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Análise Psicológica: As Duas Torres






História do Filme

O filme começa com Frodo e Sam caminhando em círculos, sem sair do local. Estavam passando pelos mesmos lugares, sem obter êxito em sua jornada rumo a Mordor, região onde se localiza a Montanha da Perdição.
Eles vinham sendo seguidos por Gollum e após um embate com o antigo portador do anel  o capturam. Aragorn, Legolas e Gimli seguiam o rastro de Merry e Pippin. Porém, os três se deparam com Éomer, líder do exército de cavaleiros de Rohan. Éomer e seus homens haviam sido banidos por Grima, conselheiro do Rei Theóden e servo de Saruman no reino de Rohan.
Na noite anterior os rohirins entraram em confronto com os orcs que detinham a posse de Merry e Pippin, tal acontecimento possibilitou a fuga dos hobbits para a Floresta de Fangorn. Seguindo os rastros deixados por Merry e Pippin, os três valentes adentram a Velha Floresta onde se encontram com Gandalf inesperadamente. Gandalf lhes conta que:
´´ Por fogo, água. Desde a caverna mais profunda, até o monte mais alto lutei contra Balrog de Morgoth``.
E assim, ele venceu o monstro e se tornou o  Mago Branco, uma evolução ao seu estágio anterior, anteriormente ele era o Mago Cinza. Gandalf diz que retornou para completar sua missão e que outros precisam de sua ajuda.
Merry e Pippin quando correram em direção a Fangorn foram pegos por Barbávore, um ent. Os ents são uma raça de árvores que ganharam vida devido a algo mágico presente nas águas do rio Isen.
Barbávore é o pastor e líder dos ents e diz que irá decidir em assembléia com os ents sobre o que ainda fará com Merry e Pippin.
Aragorn, Legolas, Gimli e Gandalf seguem em direção a Rohan, país governado pelo Rei Theóden, que se encontra em um estado muito debilitado  e sugestionável devido aos feitiços de Saruman e da influência perversa de Grima, antes conselheiro fiel do rei, agora servo de Saruman.
Os quatro membros da Sociedade chegam a Rohan, enfrentam hostilidade e entram em combate com a corte de Theóden em Meduseld, palácio real e residência do rei de Rohan. Gandalf consegue libertar Theóden do feitiço de Saruman.  O rei de Rohan toma conhecimento da destruição e perdas que seu reino sofreu durante o período em que esteve sob feitiço, Grima foge.
Enquanto isso, Frodo e Sam decidem o que irão fazer com Gollum. Frodo entende que Gollum que um dia se chamou Sméagol, ainda poderá ser útil.
Sam diz a Frodo para que tenham cuidado pois o antigo portador do anel é trapaceiro e não confiável. Frodo decide soltar Gollum com a condição de que este o guie até Mordor. Gollum concorda e aparentemente com o passar dos dias se torna mais amistoso e leal  a Frodo a quem o chama de ´´Mestre do Precioso``,  referência ao fato deste ser o portador do Um Anel.
Todo o povo de Rohan será atacado por Saruman e seus orcs e a recomendação de Gandalf e Aragorn é a de que Theóden permaneça em Rohan e lute contra o inimigo com o auxílio deles. Porém, o rei pretende conduzir todo seu povo para a fortaleza localizada no Abismo de Helm. Gandalf e Aragorn insistem que a decisão de levar o povo de Rohan até a fortaleza é uma decisão muito arriscada e que colocará em risco maior o povo. Mas, a soberania do rei prevalece. Gandalf parte, e avisa a Aragorn que retornará ele pede para que olhem para o leste ao alvorecer do quinto dia. Todo o povo é conduzido para a fortaleza do Abismo de Helm. A viagem é feita a pé incluindo crianças e idosos, de maneira lenta, o que coloca todas as pessoas em risco de um ataque da parte dos orcs servos de Saruman. O ataque ocorre e muitas pessoas morrem. Mas, a comitiva prossegue. Durante o ataque Aragorn, cai de um penhasco. Todos ficam abatidos pensando que ele havia morrido. Ao chegarem à fortaleza, começam os preparativos para a batalha contra os orcs e uruk-hais, orcs mais fortes e inteligentes. O contingente de homens é escasso e o massacre é tido como certo. Aragorn retorna para a surpresa, alegria e encorajamento de todos. A batalha se inicia.
Paralelamente, Gollum guia Frodo e Sam até a Montanha da Perdição. E quando já estão na entrada do portão de Mordor, os três acabam sendo rendidos e presos por Faramir, irmão de Boromir.
Faramir deseja tomar o anel para si, assim como seu irmão havia ambicionado.
Faramir os leva para Osgiliath, domínio de Gondor, os faz prisioneiros e interroga Frodo sobre qual o motivo dele estar nos domínios de Mordor e na companhia de Gollum. Frodo lhe responde que está em jornada pela destruição do Um Anel. A cidade de Osgiliath acaba sendo atacada pelas forças de Sauron que descobrem a presença do Um Anel e partem em busca de recuperá-lo. Faramir liberta Frodo, Sam e Gollum e os despede, entendendo o propósito da jornada daqueles hobbits. No Abismo de Helm, apesar da enorme desvantagem no combate Aragorn, Legolas, Gimli e Theóden lutam bravamente ao lado dos outros rohirins contra orcs e uruk-hais. É chegada  a aurora do quinto dia pós partida de Gandalf. E conforme o mago  havia prometido ele retorna e acompanhado de Éomer e o  exército de cavaleiros de Rohan. A batalha é triunfante para o povo de Rohan e aliados.
Em Fangorn, após ter sido realizado a reunião entre os ents, eles concluíram que Merry e Pippin não eram orcs e que não iriam ajudar na batalha pela Terra Média. Segundo Barbávore, nunca ninguém esteve ao lado dos ents e por este motivo eles também não estariam apoiando ninguém na guerra contra Sauron.
O líder dos ents diz que conduzirá os dois pequenos hobbits aonde quer que eles desejem ficar. Pippin inteligentemente pede para que Barbávore os leve ao sul, próximo a Orthanc, a torre de Saruman. O ent não entende acha estranho, mas acaba concordando. Quando Barbávore chega ao local determinado, ele se enfurece ao ver a obra de destruição de Saruman que matou muitos ents amigos seus. O pastor dos ents convoca todos os outros ents para marcharem em guerra contra as forças de Saruman.
Os hobbits conseguiram seu objetivo de introduzir os ents na Guerra pela Terra Média. Barbávore e seu exército de ents derrotam triunfalmente Saruman e seu exército. O rio Isen é libertado, alaga e destrói furiosamente as forjas de fundição de Saruman, derrotando os orcs.

  
Análise Simbólica

A importância da sombra.

O filme começa com Frodo e Sam caminhando em círculos,sem sair do local onde estavam, passando pelos mesmos lugares  e não obtendo êxito em sua jornada rumo a Mordor .Justamente porque ambos representam uma verdade unilateral do Self,ambos são funções racionais ; Frodo (pensamento) e Sam (sentimento).Falta a Frodo e Sam, a  complementação das funções irracionais, a sensação e a intuição personificadas em  Sméagol (sensação)/ Gollum (intuição).
´Ars totum requirit hominem!` (a Arte requer o homem inteiro!), exclama  um velho alquimista. Justamente é este ´homo totus` que se procura.
O esforço do médico, bem como a busca do paciente, persegue esse ´homem total` oculto e ainda não manifesto, que é  também o homem mais amplo e futuro.
No entanto, o caminho correto que leva à totalidade é infelizmente feito de desvios e extravios do destino. Trata-se da ´longissima via`, que não é uma reta , mas uma linha que serpenteia, unindo os opostos à maneira do caduceu, senda cujos meandros labirínticos não nos poupam do terror . Nesta via ocorrem as experiências que se consideram de ´difícil acesso` .Poderíamos dizer que elas são inacessíveis por serem dispendiosa, uma vez que exigem de nós o que mais tememos , isto é, a totalidade.
(JUNG, 1994, pár.20)

Sim, o caminho correto que leva a meta da individuação é feito de desvios e extravios do destino.
Frodo e  Sam continuariam em desvios e extravios de caminho ,caso não tivessem encontrado o seu lado oposto em Sméagol / Gollum.
Pois são justamente tais funções irracionais, perceptivas que podem guiá-los por caminhos escondidos e ocultos que levam até O Portão Negro, as funções de julgamento racionais desconhecem tais caminhos. O sentimento (Sam) pode até querer desprezar aspectos repulsivos (Sméagol / Gollum) em relação a si próprio, mas o pensamento é capaz de conviver com tais aspectos,pois entende que os mesmos são necessários em prol do objetivo da totalidade:
´´Sam (sentimento): Por que não o atamos e o deixamos para trás?
  Frodo (pensamento): Talvez ele mereça morrer, mas agora que o vejo tenho pena dele. ``
E assim como a pena segurou a mão de Bilbo, e governou o destino de muitos, a mesma situação se repete com Frodo. Frodo afirma que sem Sam ele não teria conseguido chegar tão longe, mas não conseguiria de forma alguma completar sua jornada sem  Gollum.
Mas aí, para se admitir isso, é necessário um esforço muito grande por parte da consciência em reconhecer a  importância da sombra.

Meduseld

Aragorn, Legolas e Gimli seguiam o rastro de Merry e Pippin. Porém, os três se deparam com Éomer  e seus homens que haviam sido banidos por Grima do reino de Rohan.Na noite anterior os rohirins entraram em confronto com os orcs que detinham a posse de Merry e Pippin, tal acontecimento possibilitou a fuga dos hobbits para a Floresta de Fangorn.
Seguindo os rastros deixados por Merry e Pippin, os três valentes adentram a Velha Floresta onde se encontram com Gandalf inesperadamente.
Gandalf lhes conta que:
´´ Por fogo, água. Desde a caverna mais profunda, até o monte mais alto lutei contra Balrog de Morgoth ``.
E o texto bíblico em Isaías 43,2 conta que:

Quando passares pelas águas, estarei contigo, e quando passares pelos rios, eles não te submergirão.
 Quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. (Isaías, 43, vers.2)

Nesta fala de Gandalf, encontra-se a representação do Self, Gandalf atingiu a totalidade. A conjunção de opostos está completa em Gandalf o Branco, é na virada da maré  que ele retorna aos que precisam de sua ajuda, sua missão não está completa .
Os quatro agora se dirigem a Rohan, pois o rei Théoden se encontra sob a influência de Grima Língua de Cobra. Então podemos ver que, a consciência fora tomada pelos aspectos obscuros do Inconsciente, a luz não se encontra no Ego de Théoden, mas na sombra. Grima personifica as forças destrutivas do inconsciente, a estória  não nos conta sobre a personalidade de Theóden anterior a possessão do arquétipo na consciência do rei dos rohirins,
Porém é muito provável que o mesmo adotava uma postura orgulhosa e onipotente, sempre buscando mais  poder, até que a atitude compensatória do inconsciente transformou Théoden ,em um simples fantoche. Caso contrário teria sido muito difícil ocorrer tal cisão conforme o acontecido.
O rei se tornou cego, rígido e petrificado diante dos desígnios e ordens de Grima.
O nome do palácio dourado do rei de Rohan têm um nome sugestivo, que parece transmitir um significado tanto da cegueira do momento vigente, como também de sua cura e libertação no futuro.
Ao separar o termo desta forma, Medus – eld encontramos um significado no presente e no futuro da neurose de toda Rohan.
O termo Medus, nos remete ao mito de Medusa, personagem a qual todo aquele que olhasse para ela se petrificava.
Théoden se tranfromou em uma estátua de pedra, sem individualidade alguma ao olhar para os conselhos de Língua de Cobra.
Este texto traz o significado simbólico da Medusa:
GÓRGONAS
Três irmãs, três monstros, cabeça aureolada de serpentes enfurecidas, presas de javali saindo dos lábios, mãos de bronze, e asas de ouro: Medusa, Euríale, Esteno.
Simbolizam o inimigo a abater. As deformações monstruosas da psique são devidas às forças pervertidas dos três impulsos: sociabilidade, sexualidade, espiritualidade.
Euríale seria  a perversão sexual,Esteno a perversão social; Medusa simbolizaria o princípio desses impulsos : o espiritual e evolutivo,mas pervertido em estagnação vaidosa.
Só se pode combater a culpabilidade originada da exaltação vaidosa dos desejos com um esforço no sentido de realizar a justa medida, a harmonia.
É isso que simboliza quando as Górgonas ou as Erínias perseguem alguém, à entrada no templo de Apolo, deus da harmonia, como num refúgio.
Quem via a cabeça da Medusa ficava petrificado. Não seria por refletir a Górgona a imagem de uma culpa pessoal? Mas o reconhecimento da falta, no contexto de um justo conhecimento de si mesmo, pode também perverter-se em exasperação doentia, em escrúpulos paralisantes de consciência.
Paul Diel observa com profundidade: A confissão pode ser- o é quase sempre – uma forma
Específica da exaltação imaginativa: um remorso exagerado. O exagero da culpa inibe o esforço reparador. Só serve ao culpado para refletir vaidosamente na complexidade, imaginada única e de profundeza excepcional, da sua vida subconsciente...
Não basta descobrir a culpa. É preciso suportar a visão dela de maneira objetiva, nem exaltada nem inibida (sem exagerá-la ou minimizá-la ). A própria confissão deve estar isenta de excesso de vaidade e de culpabilidade... A Medusa simboliza a imagem deformada do eu... que petrifica de horror ao invés de esclarecer na medida justa ( DIES, 93-97 ).
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, pg.476)




E, quanto ao termo eld, ele trás uma referência com a palavra inglesa Elder.
´´ELDER [ ´ elde ], s. Ancião ; antepassado; dignitário; chefe de uma tribo;oficial superior em algumas igrejas protestantes; (bot) sabugueiro. a . comp. de old, mais velho .``(SERPA, 1957, pg.476)
É bem claro sobre quem seja o Ancião da estória, Gandalf. Ele é justamente o oposto de Theóden.O rei  está cego e petrificado, nas sombras. Gandalf é o Branco, o que ilumina e trás a visão.O termo Meduseld,seria então uma referência a cegueira e imobilização de Theóden(Medusa), juntamente com a iluminação e transformação  que Gandalf ( Elder)
 trás a consciência nublada e obscurecida.
O termo Meduseld  encerra em si próprio o início e o fim da estória em ´´As Duas Torres``, pois o termo expressa como uma consciência nublada, indiferente em relação a seus próprios problemas e desafios e sem esperanças ( povo de Rohan / Ents) personificado por Théoden, passa a ter uma visão ampliada quando recebe a cura de sua cegueira pela relação restaurada com o inconsciente( Gandalf / Merry e Pippin).
A luz de Gandalf descendo a montanha cegou os orcs, que logo foram derrotados. Gandalf simboliza o arquétipo do Self, o homem total emana ´´luz própria, e por onde passa transforma os que estão ao seu redor.

 A transformação espiritual da humanidade ocorre de maneira vagarosa e imperceptível, através de passos mínimos no decorrer de milênios e não é acelerada ou retardada por nenhum tipo de processo racional de reflexão e, muito menos, efetivada numa mesma geração. Todavia, o que está a nosso alcance é a transformação dos indivíduos singulares, os quais dispõem da possibilidade de influenciar outros indivíduos igualmente sensatos de seu meio mais próximo e, às vezes, do meio mais distante.
Não me refiro aqui a uma persuasão ou pregação, mas apenas ao fato da experiência de que aquele que alcançou uma compreensão de suas próprias ações e, desse modo teve acesso ao inconsciente, exerce, mesmo sem querer, uma influência sobre o seu meio.
O aprofundamento e ampliação da consciência produz os efeitos que os primitivos chamam de ´mana`. O mana é uma influência involuntária sobre o inconsciente de outros, uma espécie de prestígio inconsciente, e seu efeito dura enquanto não for perturbado pela intenção consciente.(JUNG, 1999, pár. 50)





O Dique se rompe


Os orcs levavam consigo Merry e Pippin, pois a única informação que Mordor e Isengard tinham era de que  o Um Anel estava com um hobbit.
E assim, desta forma uma sequência de sincronicidades começam a promover mudanças marcantes na trajetória da trama.
O objetivo de Sauron e Saruman era obter o Um Anel, e desta forma a ordem era levar o hobbit vivo para concretizar tal meta.
Mas o que os orcs desconheciam, era que na verdade estavam ajudando os pequenos hobbits, levando-os mais próximos de Fangorn.
Da mesma forma Grima também ajudou os hobbits ao expulsar Éomer e seus cavaleiros de Rohan. Pois fora no momento do combate dos rohirins contra os orcs, que Merry e Pippin conseguiram fugir rumo a Floresta Velha.
O texto bíblico em Romanos 8; 28, fala sobre a sincronicidade de ações.
´´ Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. ``

Saruman também desejava apossar-se do Anel, para uso próprio, ou pelo menos capturar alguns hobbits para seus propósitos malignos. Então, agindo em conjunto, nossos inimigos só conseguiram trazer Merry e Pippin, numa velocidade espantosa, e no momento certo, até Fangorn, para onde eles nunca teriam vindo de outra forma. (TOLKIEN, 2001, pg.69)

Merry e Pippin são encontrados por Barbávore, o pastor do ents, antes de entrarem na Floresta, os hobbits comentavam sobre os ents, que teriam ganhado vida por conta de alguma coisa na água do rio.
Os ents sempre foram um povo pacífico e não muito sociáveis, não se relacionavam com as outras raças. Eram dissociados do que acontecia na Terra Média, sem preocupações, sem problemas, totalmente apáticos em relação à grande guerra que estava acontecendo.
Porém os ents não eram dissociados apenas em relação ao que acontecia na Terra Média, eram dissociados também em relação a si mesmos.
Barbávore racionaliza sua atitude e a de seu povo:
´´Não estou do lado ninguém, porque ninguém está do nosso lado. ``
Mas o propósito de Merry e Pippin em estar na Floresta, começaria a dar certo. Barbávore convoca os ents para um entebate, uma reunião dos ents, algo não muito comum de ocorrer.
A língua entês também é um idioma que se leva muito tempo para se dizer algo, quando utilizada para uma conversa.
E o diálogo também só é feito quando vale a pena, ou seja, o povo ent é um povo que reprime a função sentimento, priorizando a função pensamento.
A postura extremamente racional da consciência dos ents aparece nesta fala de Barbávore:
´´Os ents não podem deter esta tempestade. Devemos agüentar os acontecimentos como sempre fizemos. Esta guerra não é nossa.``
Mas o dique estava por se romper , não o dique do rio Isen, o rompimento do dique de Isen na verdade só irá ser ocorrer casso o dique do rio do inconsciente, se rompa e inunde a consciência dos ents com seus complexos carregados de afeto.
Não foi em vão que os jovens hobbits vieram conosco, mesmo que tenha sido apenas para o bem de Boromir. Mas esse não é o único papel deles. Foram trazidos a Fangorn e a chegada deles foi como a queda de pequenas pedras que iniciam uma avalanche nas montanhas. Neste momento em que estamos conversando, ouço os primeiros estrondos.
Será melhor para Saruman não ser pego fora de casa quando a represa explodir.
(TOLKIEN, 2001, pg. 68)
 
Esta é a missão dos hobbits, complementar as funções racionais caracterizadas nos ents. Merry personifica a função sensação, Pippin personifica a função intuição. Ambos representam as funções perceptivas irracionais, funções estas que até então faltavam a Barbávore e seu povo. Pippin(intuição) pede para o velho ent, levá-los ao sul ,para Isengard,onde está o rio Isen, onde será rompido o dique do inconsciente. Barbávore (pensamento) não entende o pedido do pequeno, mas  atende a demanda :
´´Sempre eu gostei de ir ao sul. De certa forma, é como descer colina abaixo``.
Esta é a catábase de Barbávore, sua descida ao sul, ao inconsciente. Lá o ent encontrará a função sentimento, que será a grande responsável pela marcha dos ents rumo a Isengard. O dique do inconsciente se rompeu inundando as consciências com seus complexos, antes frios e racionais, agora os ents marcham inflamados pelos sentimentos trazidos à tona.


O discurso de Barbávore agora é outro, pois ouve o rompimento da represa do inconsciente no momento em que vê (sensação) seus amigos ents mortos:
´´Tenho que me ocupar de Isengard esta noite com rodas e pedras. Os ents partem para a guerra. É provável que encontremos nosso fim. Que seja a última marcha dos ents. ``
O velho ent agora pegou os hobbits de volta, e colocou-os sobre os ombros outra vez, e assim eles foram orgulhosos à frente do grupo que cantava, com os corações palpitando e as cabeças erguidas. Embora tivessem tido expectativas de que alguma coisa ocorresse eventualmente, ficaram chocados com a mudança que ocorrera ao ents. Parecia abrupta como o estouro de uma correnteza há muito tempo estancada por dique. (TOLKIEN, 2001, pg.60)

O rio Isen antes represado, agora corre livre pelos ents. Por conta deste rompimento os ents libertam o rio Isen, este passa levando embora toda destrutividade unilateral, transformando tudo por onde passa.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012





Análise Psicológica: A Sociedade do Anel

História do Filme.

O filme começa com a narrativa de como foram criados certos anéis, e posteriormente distribuídos os mesmos a líderes de três raças diferentes, tais anéis deveriam servir ao propósito da vontade de governar com paz e inteligência os reinos de cada raça.
Foram distribuídos: 3 anéis aos elfos,7 anéis aos anões mineradores e 9 anéis aos homens.
Mas o Um Anel estava em oculto no poder de Sauron, que forjou os anéis partilhados e forjara para si o Um Anel.
O Um Anel controlava todos os outros anéis e seus portadores, levando os à sua própria destruição.
E tal destruição chegou ao seu clímax com a batalha travada entre o exército de homens e elfos contra o exército de Sauron.
Sauron, senhor dos anéis, é derrotado, mas o Um Anel não é destruído.
Isildur, o líder dos homens, movido pela ganância e poderes mágicos do Um Anel, não atende aos apelos de Elrond, líder dos elfos, para que o anel seja destruído.
Isildur, em posse do anel maldito, é morto em uma emboscada e o anel cai no fundo de um lago por lá permanecendo durante 2500 anos.
Passados 2500 anos o Um Anel foi encontrado por um hobbit chamado Sméagol ele fica com o anel durante 500 anos, sendo encontrado posteriormente por Bilbo, este também pertencente à raça dos hobbits.
Sméagol, ou Gollum, fica furioso com Bilbo este quase o mata, mas sente pena do antes hobbit e agora criatura horrenda, deformado pelo longo período em que possuiu o anel.
Bilbo possuiu o anel durante 60 anos até que o anel foi descoberto pelo mago Gandalf.
Bilbo resolve partir do Condado, lugarejo dos hobbits não sem antes ter se tornado invisível na frente de toda a comunidade e do próprio mago por conta da utilização do anel.
Gandalf questiona Bilbo e exige que ele deixe o Um Anel para seu sobrinho, Frodo.
Frodo é instruído por Gandalf a respeito da origem do anel maldito e sobre a necessidade deste ser destruído. O mago orienta Frodo para que parta imediatamente, pois os naszgull, servos de Sauron que anteriormente foram homens e em virtude de terem sido portadores dos 9 anéis dados ao homens se tornaram espectros, virão em busca do anel. A informação de que o Um Anel estaria no Condado foi dada por Sméagol, ao ser torturado pelos orcs servos de Sauron. Frodo foge e conta com o auxílio de seu amigo Sam. Durante sua aventura os dois encontram Aragorn, o herdeiro do trono de Isildur. Aragorn os auxilia em sua fuga, porém, em um embate contra os naszgull a lâmina da espada de um dos espectros atinge o peito do hobbit.
Aragorn, Frodo e Sam partem então em direção a Valfenda, terra dos elfos governada por Elrond, o líder do elfos. Um conselho é estabelecido para se decidir o destino do Um Anel. Estão presentes: Elrond, Gandalf, Boromir, filho guerreiro do regente de Gondor – país dos homens-, Legolas, guerreiro elfo, Gimli, guerreiro anão e Aragorn, guerreiro e herdeiro do trono dos homens.
Fica decidido que Frodo será o portador do Um Anel e o levará até a Montanha da Perdição, local onde o anel foi forjado e único local onde o mesmo pode ser destruído. Também se reúnem Sam e dois outros hobbits; Merry e Pippin na missão de Frodo. Estava organizada a Sociedade do Anel.
A Sociedade do Anel foi formada por: Frodo, Sam, Merry Pippin, Aragorn, Legolas, Gimli, Boromir e Gandalf.
A comitiva enfrenta a fúria das investidas do mago Saruman nas montanhas sombrias. Este anteriormente fora um amigo de Gandalf, mas é agora um aliado e servo de Sauron, e dispara raios; o grupo logo percebe que deve mudar a trajetória de sua missão.
Tem início a jornada da Sociedade: eles partem rumo a Moria, a cidade e mina dos anões, mesmo a contragosto de Gandalf. Logo na entrada do portão da cidade ocorre um embate entre um polvo e os membros da Sociedade. A criatura é abatida e eles conseguem adentrar em Moria.
Sentam-se para descansar um pouco e um interessante e importante diálogo ocorre entre Gandalf e Frodo.
O velho mago conta que os anões de Moria, cavaram profundamente em busca de riquezas. E por conta disto, acordaram o Mal. Fica clara aqui, a ganância dos anões.
Os anões foram vítimas  de sua própria ganância, foram destruídos por ela.
Eles acordaram um antigo monstro chamado Balrog, criatura que destruiu os anões.
Gandalf conta  que, o Gollum – Sméagol, o hobbit que portou o anel durante 500 anos está seguindo o grupo há 3 dias. Ele diz a Frodo que Gollum ama e odeia o anel. Frodo diz que foi uma pena Bilbo não ter matado Gollum quando pode. Gandalf responde que a pena que segurou a mão de Bilbo e a  piedade  podem governar o destino de muitos.
Bilbo foi destinado a encontrar o anel, e Frodo destinado a carregar o anel.
E Gollum ainda tem um papel a cumprir, segundo o mago.
Toda esta fala de Gandalf é muito importante, pois fala a respeito de destino.
E de como Bilbo e Gollum, estavam destinados a cumprir seus papéis, em toda a obra de Eru Ilúvatar, deus criador de Arda - Universo. Uma batalha ocorre entre a Sociedade, orcs e um troll. Em seguida o grupo foge dos orcs e encontra o Balrog, antigo demônio. Gandalf diz aos membros da Sociedade para que sigam em frente enquanto ele confronta o monstro.
O mago e o monstro caem em um abismo. A comitiva do anel segue cabisbaixa devido à perda de um importante membro. A Sociedade segue para a Floresta dos elfos, reduto governado pela líder Galadriel. Galadriel, a Dama da Floresta, como é chamada, se vê testada pela possibilidade de possuir o Um Anel.
A elfo vence o teste e recusa a oportunidade de sucumbir frente ao poder do anel. A Sociedade recebe presentes mágicos dos elfos, tais como cordas, capas e uma espécie de lanterna, a luz de Erindim entregue a Frodo.
A comitiva do anel parte para sua jornada novamente. Desta vez, Boromir se sente tentado pelo poder do Um anel, ele tenta tomar o anel de Frodo. Frodo foge e o grupo é atacado por orcs a serviço de Saruman. Uma batalha árdua ocorre. Boromir morre, mas se redime antes tentando proteger Frodo.
Frodo entende que deve seguir sua jornada sozinho, para não trazer mais mortes e dores para seus companheiros de Sociedade. Merry e Pippin são sequestrados pelos orcs, Aragorn, Legolas e Gimli prosseguem unidos e Frodo e Sam seguem rumo a destruição do Um Anel na Montanha da Perdição.




Análise Simbólica

Os números dos anéis são interessantes, pois expressam um falso significado, quando analisados separadamente, pois o 3 exprime uma ordem intelectual e espiritual, a triunidade do ser a conjunção do 1e do 2, a Trindade cristã por exemplo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999).
Ao analisar o três deixando de lado o contexto do Um Anel, certamente poderia se pensar numa ordenação, em um governo de equilíbrio por meio dos três anéis confiados aos elfos. O 7 representa a conclusão do mundo e a plenitude dos tempos, criação do mundo no livro de Gênesis como exemplo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999). Os sete anéis enfim trariam um governo de plenitude à raça dos anões, se formos pensar apenas no 7 e deixar o Um em oculto.
E os 9 anéis entregues aos homens vêm simbolizar a medida das gestações  das buscas proveitosas, o coroamento dos esforços, o término de uma criação, o término de um ciclo e o início de um novo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999).
Finalmente os homens iriam desfrutar de um novo governo mediante ao contexto isolado do 9, mais uma vez não nos atendo ao Um. As três raças possuem 19 anéis (3+7+9), as três raças desconhecem a existência do Um Anel, que permanece aonde deseja estar, trabalhando em oculto.
O problema de Sauron e do Um Anel, simbolizam o problema da neurose.
Segundo JUNG, neurose significa:
Estado de desunião consigo mesmo, causado pela oposição entre as necessidades instintivas e as exigências da cultura, entre os caprichos infantis e a vontade de adaptação, entre os deveres individuais e coletivos. A neurose é um sinal de alarme que o induz a procurar um processo de cura pessoal. C.G.Jung: ´A perturbação psíquica de uma neurose e a própria neurose podem ser concebidas como um ato frustrado de adaptação. Esta formulação corresponde à opinião de Freud, para quem a neurose constitui, num certo sentido, uma tentativa de autocura`. ´A neurose é sempre o substituto de um sofrimento legítimo. ` (JUNG, 2002, pg.356, 357)
O Um está em oculto, Sauron trabalha em oculto na sombra, a consciência é enganada pela sua percepção de um governo melhor, quando na verdade caminha para sua própria destruição. Sauron simboliza o arquétipo da vontade de poder, permanecendo em oculto na sombra, um complexo autônomo, que pode trabalhar livremente em um Ego aprisionado em sua visão unilateral de mundo.
Quando o Um Anel é inserido no contexto dos 19 anéis, surge a verdade.
Pois agora temos a totalidade do problema, a quaternidade do problema da divisão dos anéis está resolvida; 3 anéis aos elfos +7 anéis aos anões + 9 anéis aos homens + 1 o Um anel de Sauron=20 anéis.
O 20 altera todo o pressuposto do prognóstico anteriormente dado aos governos por seus respectivos anéis dado às três raças, pois o 20 simboliza o número do homem, o homem tem 20 dedos, 4 x 5 = 20.  Se somarmos: 4 + 5 = 9 teremos o número de anéis recebidos pelos homens.
O 9 simboliza o fim de um ciclo e o início de um novo, isto é claro e explicitado  na obra pois é o fim da era dos elfos na Terra Média, e o início da era dos homens na Terra Média e sendo 20 o número dos anéis, 20 também é o número do homem.
No Hinduísmo a duração e o fim de cada era cósmica são de 432.000 anos, ou seja, 4+3+2=9.
E foi por conta do homem que o Um Anel não fora destruído; Isildur simbolizando o ego obstinado não dera ouvidos à voz de Elrond (inconsciente) para que jogasse o anel na lava e acabou sucumbindo.
 [...] também o inconsciente às vezes se manifesta de maneira estranha nos sonhos, são pensamentos inspiradores ou vozes bem nítidas que fornecem instruções bastante claras.
(VON FRANZ, 2008, p.119)

O Um Anel então ficou adormecido no fundo de um lago por 2.500 anos (uma referência clara aos conteúdos imersos no Inconsciente) e na posse de Smeagol / Gollum, por mais 500 anos até que Bilbo viesse se apossar do mesmo.
E o anel ficou também em posse de Bilbo por 60 anos. Na antiga Mesopotâmia eram utilizados dois sistemas de medições numéricas: a decimal e a sexagesimal.
De acordo com (CAMPBELL, 2004), a medida sexagesimal era baseada no soss (60), e até hoje utilizamos esta medida numérica; 60 segundos totalizam um minuto, 60 minutos totalizam uma hora, 360 graus um círculo.
O ano mesopotâmico constava de 360 dias, a morte e ressurreição de um ano então constavam de 360 dias.




Bem, se olharmos para esta totalidade de anos  :

- 2.500 anos, Um Anel no fundo do lago.

- 500 anos, Um Anel na posse de Smeagol/Gollum.
                                         
- 60 anos, Um anel na posse de Bilbo.

2500 + 500 + 60 = 3060 anos.                                                                                                 
                                                                                                       
E com esta quantidade de anos podemos inferir algumas coisas:

-          Sauron teria necessitado de 3060 anos para recuperar seu poder.

-          3+6=9, Sauron recupera suas forças na era dos homens .

-          20 número do homem, 3 foram as etapas de anos diferenciadas no processo de morte e ressurreição de Um Anel/ Sauron (1. fundo do lago , 2. posse de Smeagol/ Gollum e 3. posse de Bilbo),assim sendo: 60 totalidade sexagesimal / 3 etapas = 20 era do homem.

-          60 anos na posse de Bilbo, 60 minutos = 1 hora. Enfim chega: “A hora certa do despertar do Um Anel / Sauron”.

Chegada é a era dos homens, e aqueles que um dia foram homens e hoje são espectros, também são 9.
Os naszgull têm um papel de suma importância para Frodo, conforme vamos ver agora.









O Ritual de Iniciação

Se pensarmos sobre quem era Frodo e quem passou a ser Frodo pós a jornada do Anel, teremos um grande exemplo do que é um ego entregue ao processo de individuação. Como exemplos, de o que vem a ser um ego em jornada de individuação, têm o Cristo que diz: ´´ "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mateus 26:39). O Cristo (Ego) sabia que o sofrimento lhe aguardava. Mas caso ele objetivasse cumprir sua meta, deveria seguir a orientação do Self (Deus Pai). Jung define individuação da seguinte maneira:
´ Uso a palavra ´individuação` para designar um processo pelo qual um ser torna-se um “individuum” psicológico, isto é, uma unidade autônoma e indivisível, uma totalidade.
A individuação significa tender a tornar-se um ser realmente individual; na medida em que entendemos por individualidade a forma de nossa unicidade, a mais íntima, nossa unicidade última e irrevogável; trata-se da realização de seu Si - mesmo, no que tem de mais pessoal, e de mais rebelde a toda comparação. Poder-se-ia, pois, traduzir a palavra “individuação” por “realização de si mesmo”, “realização do Si – mesmo`. (JUNG,2002,p.355)

Uma das narrativas do filme diz o seguinte: “E os hobbits governarão o destino de todos”.
Na divisão dos anéis, os hobbits foram a única raça a não receber anel algum, os hobbits, da quaternidade das raças foi a raça desprezada, a menor raça, aquela tida com pouco ou sem valor.
Mais uma vez a simbolização da neurose aparece expressa, 3 raças receberam atenção e foram reconhecidas como sendo parte da totalidade (Terra Média) uma raça fora dissociada mesmo fazendo parte do todo.
E assim dependendo do grau de valor e ou importância dado ao inconsciente por parte do ego, ele aparecerá expresso em símbolos de tamanhos opostos. De um modo geral, o ego tem a falsa impressão de estar no comando do todo, O inconsciente em certas representações  aparece como alguém pequeno, tal como  Frodo, e a raça dos hobbits. Na Alquimia temos como o centro, o alvo, o objetivo a produção da lapis phiposophorum . Sobre a questão De Frodo e sua representação simbólica na lapis descreveremos mais adiante na parte referente a O Retorno do Rei.
Retomando o problema de Frodo, um hobbit pacato que nunca havia saído do Condado, que nunca sequer havia segurado uma espada, passa de repente a ter a responsabilidade de salvar toda a Terra Média.
Mas nada é fácil na jornada do processo de individuação. É necessário que se abra mão de certas coisas das quais já estamos acostumados a ter, acomodados a viver de determinadas maneiras e isso sempre provoca algum desconforto, alguma dor. E por vezes até a própria morte.
Frodo precisava morrer simbolicamente, antes de iniciar sua jornada, e foi o que aconteceu, quando o mesmo é atingido pela lâmina do naszgull.
Faz parte do ritual de iniciação do herói o auto-sacrifício: morre uma velha natureza, nasce uma nova natureza.
´´Ele deve deixar de lado o orgulho, a virtude, a beleza e a vida e inclinar-se ou submeter-se aos desígnios do absolutamente intolerável.`` (CAMPBELL, 1993,p.61)
A provação é um aprofundamento do problema do primeiro limiar e a questão ainda está em jogo: pode o ego entregar-se à morte? Pois muitas cabeças têm essa Hidra circundante; cortada uma delas, duas outras se formam — exceto se for aplicado, ao coto mutilado, o cauterizador apropriado. A partida original para a terra das provas representou, tão-somente, o início da trilha, longa e verdadeiramente perigosa, das conquistas da iniciação e dos momentos de iluminação.
                                         (CAMPBELL, 1993, p.62)

A cena do filme evidencia o aspecto do ritual de iniciação, de sacrifício, pois Frodo se encontra na torre de vigia, um local semelhante ao velho círculo de pedras do Stonehenge na Inglaterra, uma mandala de pedras empilhadas onde supostamente eram feitos rituais de sacrifícios humanos, segundo (CAMPBELL 2004).
Este texto é bem explicativo sobre a importância do papel do ritual de iniciação:

Moyers: E a mensagem das cavernas?
Campbell: A mensagem das cavernas é sobre uma relação entre o tempo e os poderes eternos, que de algum modo deve ser experimentada ali.

Moyers: Para que eram usadas essas cavernas?

Campbell: A especulação dos investigadores diz que elas tinham a ver com a iniciação dos meninos à caçada. Os meninos aprendiam não somente a caçar, mas a respeitar os animais, que rituais executar, e, em suas próprias vidas, como deixar de ser menino para ser homem. As caçadas você sabe, eram extremamente perigosas. Essas cavernas eram os primitivos santuários dos ritos masculinos, onde os meninos deixavam de ser os filhos das suas mães para se tornarem os filhos dos seus pais.

Moyers: O que me aconteceria se eu fosse uma criança e participasse de um desses ritos?

Campbell: Bem, não sabemos o que eles faziam nas cavernas, mas sabemos o que fazem os aborígenes da Austrália. Pois bem,quando o menino começa a ficar desobediente,um belo dia os homens chegam, e estão nus, exceto por umas esteiras de penas brancas, de ave, que eles grudaram na pele usando o próprio sangue como cola. Eles dançam e soltam mugidos de boi, que são vozes de espíritos, e os homens chegam ali como espíritos.
O menino tentará proteger-se junto à mãe, e ela fingirá que está tentando protegê-lo. Mas os homens simplesmente o tomam. Como você vê, a partir desse instante, a mãe deixa de ser útil. Você não pode voltar à Mãe, você está em outro campo.
Então os meninos são levados para fora, para o chão sagrado dos homens, e submetidos a duras experiências - circuncisão, subincisão, beber sangue humano, e assim por diante. Assim como tinham bebido o leite  materno quando crianças, agora bebem o sangue dos homens. Vão ser transformados em homens. Enquanto isso se dá, encenam-se episódios mitológicos dos grandes mitos. Eles são instruídos na mitologia da tribo. Então no final, são levados de volta à aldeia, e a menina com a qual cada um casará já foi escolhida. O menino retorna agora como homem. Ele foi arrancado da infância, seu corpo foi marcado de cicatrizes, a circuncisão e a subincisão foram cumpridas. Agora ele tem o corpo de um homem.  Não há como voltar à infância depois de um espetáculo desses.
(CAMPBELL, 1992, pg.85)


Frodo fora “circuncidado no coração”, em meio aos gritos dos espíritos (naszgull) e a cicatriz permaneceu, evidenciando que aquele Frodo do Condado estava morto. Nascia agora o Frodo da Terra Média.
Interessante notar que os espectros não podem ser mortos por homens, mas os mesmos temem o fogo.
´´Nesta perspectiva, o fogo, na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de regenerescência. Reencontra-se, pois, o aspecto positivo da destruição: nova inversão do símbolo. ``(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.443)
João Batista batizava com água, mas Jesus veio para batizar com fogo; Héracles derrotou a Hidra queimando com fogo os pescoços que tinham as cabeças cortadas; com o pescoço queimado, não nasciam mais as cabeças: a malignidade era extirpada de vez pelas chamas da iluminação.
´´ Todavia, a água é também purificadora regeneradora. Mas o fogo distingue-se da água porquanto ele simboliza a purificação pela compreensão, até a mais espiritual de suas formas, pela luz e pela verdade; [...]. ``(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.443)
Frodo tomou consciência de si mesmo e de seu caminho.
A iluminação pelo fogo simboliza o processo de tomada de consciência.

As Sociedades

Como vimos, para termos uma sociedade são necessários 9 membros, e este é o tema que dá título a esta primeira parte da obra.
Todo símbolo tem sua dualidade e assim como há a Sociedade do Anel (formada pelos 4 hobbits+2 homens+1elfo+1 anão+ 1 mago=9), há também o oposto desta sociedade, ou a sombra dela composta dos 9 espectros, ou reis bruxos.Aqui uma definição de símbolo:
 “Da atividade do inconsciente emerge agora um novo conteúdo, constelado por tese e antítese em igual medida e mantendo-se em relação compensatória com ambos. Portanto, forma o espaço intermédio em que os opostos podem ser unidos” (JUNG, 1991, parág. 825).

Dentro da Sociedade do Anel, há subdivisões:

-          A quaternidade dos hobbits: Frodo (função pensamento)X Sam (função sentimento), Pippin (função intuição) X Merry (função sensação).

-          A tríade: Aragorn, Legolas e Gimli.

-          O par de opostos: Gandalf X Boromir

Desta forma temos uma totalidade expressa pela quaternidade dos hobbits, porém a tríade composta demonstra que algo está faltando, ou seja, a destruição do Um Anel.
´´Entre os dogons e os bambaras o três é o número simbólico do princípio masculino – o seu glifo representa o pênis e os dois testículos. Além de símbolo da masculinidade, é também símbolo do movimento por oposição ao quatro*, símbolo da feminilidades e dos elementos. Para os bambaras escreve G. Dieterlen, o primeiro universo é 3, mas ele só é realmente manifestado, i.e., só tem consciência dele como o  4. O que faz com que a masculinidade (3), acrescenta ele, seja considerada pelos bambaras como um estímulo de começo, que determina a fecundidade, enquanto o florescimento e o conhecimento total desta só podem realizar-se na feminilidade.
                                  (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, p.901)

E o par de opostos entre Gandalf e Boromir nos remete  aos irmãos Castor e Pólux, um mortal o outro imortal, os dois ladrões ao lado de Cristo na cruz, um desce à mansão dos mortos e o outro sobe para o paraíso, da mesma maneira como Cristo  desce à mansão dos mortos e sobe aos céus posteriormente.
Boromir morre, Gandalf morre e ressurge.
Esta subdivisão em 3 partes da sociedade nos remete mais uma vez ao número de duração e término de uma era cósmica, 432.000 anos.
Pois 4 hobbits + 3 + 2 opostos= 9, A Sociedade do Anel.


Moria, Moiras e Moriá

            Começa a jornada da Sociedade do Anel. Como todo início de jornada, pressupõe-se um período de preparação para se enfrentar os obstáculos da longa estrada da individuação                                                                                           E tal período durou 40 dias de viagem pelas montanhas sombrias, número de dias este que remete ao período de transformação, vide as referências bíblicas, tal como o povo hebreu no deserto, Elias em sua caminhada e Cristo em seu jejum no deserto.
Em meio a este período de preparação, Gandalf era o mais cauteloso, provavelmente pelo fato de o Velho Sábio, ter a visão e o discernimento a respeito do futuro da Sociedade, e principalmente o seu individualmente.
O Velho, mesmo sendo rico na intuição, ainda temia seu futuro, sua demanda interna e sua transcendência.
Gandalf e os outros logo percebem que não estão sozinhos. Pois os corvos, espiões de Saruman, os observam e vão ao encontro de seu senhor relatar.
Gandalf estava temeroso, quanto à sua segurança e a de seus amigos e tentou conduzir o grupo por um caminho onde não fosse necessário passar pelas Minas de Moria.
O mago cinzento temia confrontar a obscuridade de um tempo muito antigo, e fez o possível para o grupo não ir em direção das Minas dos anões.
Mas quando o ego se rebela contra a soberania do Self, este se utiliza, dos recursos que bem entender para colocar a consciência em seu devido lugar; o caminho doloroso, porém libertador da individuação.
´´O Self existe desde o princípio, e, no processo de individuação é ele, geralmente,quem guia e regula o processo de crescimento interior.``(VON FRANZ, 2008, p.157)
Saruman, a sombra de Gandalf, vem perturbar os planos obstinados do ego. E provoca uma avalanche na montanha, impedindo a Sociedade de progredir rumo à sua derrota: o  grupo estava tomando o rumo no qual não passaria por Moria, e se o grupo não passasse por Moria, não iria ultrapassar importantes obstáculos ao processo de individuação. Ao chegar à frente do portão das Minas, Pippin começa a jogar pedras na água e é repreendido na mesma hora para não perturbar a água. Este é um gesto simbólico de acordar as forças das profundezas, ocultas em todos nós.
Um polvo gigante sai da água, e avança contra a Sociedade, um prenúncio do que estava por acontecer com o velho mago. Passada a ameaça aparente, todos entram nas Minas, sentam-se para descansar um pouco e um interessante e importante diálogo ocorre entre Gandalf e Frodo.
O velho mago conta que os anões de Moria, cavaram profundamente em busca de riquezas. E por conta disto, acordaram o Mal. Fica clara aqui, a ganância dos anões que termina por destruí-los.
Quando o ego se distancia dos objetivos propostos pelo Self, acaba por cair nas garras hostis e destrutivas do mesmo, no caso aqui, simbolizado pelos orcs e por Balrog responsáveis pela destruição dos anões. Gandalf conta que Gollum está seguindo o grupo há três dias. Ele diz a Frodo que Gollum ama e odeia o anel.
Frodo diz que foi uma pena Bilbo não ter matado Gollum quando pode. Gandalf responde que foi a pena que segurou a mão de Bilbo.  A piedade de Bilbo pode governar o destino de muitos.
Bilbo foi destinado a encontrar o anel, e Frodo destinado a carregar o anel.
E, Gollum ainda terá um papel importante a cumprir.
Toda esta fala de Gandalf é muito importante, pois fala a respeito de destino.
Ou seja, como todos estão predestinados pelo Self, a cumprir determinados objetivos. Na Terra Média temos a figura de Eru Ilúvatar, como sendo o deus criador, ele simboliza o Self.
Não sei se foi intencional, da parte de Tolkien ter dado o nome Moria, pela semelhança com o termo Moiras, ao local onde se localizam as Minas dos anões.
Os acontecimentos dentro das minas, anteriores a chegada do grupo, deixam impressões de paralelismos com a ação das Moiras, trabalhando nas ocorrências das sincronicidades.

´A palavra  grega  moîra  provém do verbo meíresthai, obter ou ter  em partilha, obter por sorte, repartir, donde Moîra é parte, lote, quinhão, aquilo que a cada um coube por sorte, o destino. Associada a Moîra tem-se, como seu sinônimo, nos poemas homéricos, a voz arcado-cipriota, um dos dialetos usados pelo poeta, Aîsa. Note-se logo o gênero feminino de ambos os termos, o que remete à idéia de fiar,ocupação própria da mulher: o destino simbolicamente é ´´fiado`` para cada um . De outro lado Moîra e Aîsa aparecem no singular e só uma vez na Ilíada, XXIV, 49, a primeira surge no plural.
O destino jamais foi personificado e, em conseqüência, Moîra e Aîsa  não foram antropomorfizadas:  pairam soberanas acima dos deuses e dos homens, sem terem sido elevadas à categoria de divindades distintas. A Moîra, o destino, em tese, é fixo, imutável, não podendo ser alterado nem pelos próprios deuses.
Há, no entanto os que fazem sérias restrições a esta afirmação e caem no extremo oposto: ´Aos olhos de Homero, Moîra  confunde-se  com a vontade dos deuses, sobretudo de Zeus. É bem verdade que em alguns passos dos poemas homéricos parece existir realmente uma interdependência, uma identificação da Moîra com Zeus, como nesta fala de Licáon a Aquiles:

´E a MOÎRA fatídica, mais uma vez, me colocou em tuas mãos: parece que sou odiado por ZEUS pai, que novamente me entregou a ti``

As Moîras são a personificação do destino individual, da ´parcela` que toca a cada um neste mundo.Originariamente, cada ser humano tinha a sua moîra, a saber,´sua parte, seu quinhão` de vida, de felicidade, de desgraça.`
´Impessoal e inflexível  a Moîra é a projeção de uma  lei que nem mesmo os deuses podem transgredir, sem colocar em perigo a ordem universal.`

´Essa Moîra, sobretudo após as epopéias homéricas, se projetou em três Moîras: Cloto, Láquesis e Átropos, tendo cada uma função específica, de acordo com sua etimologia:

CLOTO,em grego (Klothô com o aberto), do verbo (klóthein), fiar, significando, pois, Cloto, a que fia, a fiandeira.
Na realidade, Cloto segura o fuso e vai puxando o fio da vida.

LÁQUESIS, em grego (Lákhesis), do verbo (lankhánein), em sentido lato, sortear, a sorteadora: a tarefa de Láquesis é enrolar o fio da vida e sortear o nome de quem deve morrer.

ÀTROPOS, em grego (Átropos) de a (a, ´alfa privativo`), não, e o verbo (trépein), voltar, quer dizer, Átropos é a que não volta atrás, a inflexível .Sua função é cortar o fio da vida.
(BRANDÃO, 1997, pg. 140, 141, 230, 231)

Gimli que anteriormente descrevera da hospitalidade de seu povo e de seu primo Balin, encontra restos mortais de um anão e lamenta, a morte do primo.
sombra, se repete, desta vez em um poço. Uma batalha ocorre entre a Sociedade, orcs e um troll.
Em seguida o grupo foge dos orcs e encontram o Balrog.
Gandalf compreende que sua hora chegou, é a hora da renúncia do ego.
E aqui há uma semelhança no nome do local onde estão situadas as Minas dos Anões.
Moriá é o nome da terra onde se localizava o monte onde Javeh ordenou que Abraão sacrificasse seu filho Isaque.
Embora Abraão não tenha sacrificado seu filho no Monte Moriá, ele sacrificou a vontade de seu próprio ego, ouvindo a voz do Self.
Gênesis 22; 1-19.

Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: "Abraão!" "Eis-me aqui", respondeu ele.
Deus disse: "Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar."
No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou consigo dois servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha indicado.
Ao terceiro dia, levantando os olhos, viu o lugar de longe.
"Ficai aqui com o jumento, disse ele aos seus servos; eu e o menino vamos até lá mais adiante para adorar, e depois voltaremos a vós."
Abraão tomou a lenha do holocausto e a pôs aos ombros de seu filho Isaac, levando ele mesmo nas mãos o fogo e a faca. E, enquanto os dois iam caminhando juntos,
Isaac disse ao seu pai: "Meu pai!" "Que há, meu filho?" Isaac continuou: "Temos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto?"
"Deus, respondeu-lhe Abraão, providenciará ele mesmo uma ovelha para o holocausto, meu filho." E ambos, juntos, continuaram o seu caminho.
Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; colocou nele a lenha, e amarrou Isaac, seu filho, e o pôs sobre o altar em cima da lenha.
Depois, estendendo a mão, tomou a faca para imolar o seu filho.
O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: "Abraão! Abraão!" "Eis-me aqui!"
"Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único."
Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho.
Abraão chamou a este lugar Javé-yiré, de onde se diz até o dia de hoje: "Sobre o monte de Javé-Yiré."
Pela segunda vez chamou o anjo do Senhor a Abraão, do céu,
e disse-lhe: "Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei.
Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos,
e todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela, porque obedeceste à minha voz."
Abraão voltou então para os seus servos, e foram juntos para Bersabéia, onde fixou sua residência. (Gênesis, 22; 1-19)
Abraão em Moriá sacrificou o desejo de seu ego. Gandalf em Moria sacrificou seu desejo egóico também.
É tempo de Gandalf, confrontar sua sombra, embora ele diga em vão ao Balrog para que este volte para a sombra. Mas não é o conteúdo hostil que deve descer as profundezas das trevas novamente, e sim Gandalf quem deve realizar a catábase.
O mago se rende, pois sabe do propósito transformador que tal experiência lhe proporcionará, mas o resto da Sociedade, não entende os propósitos de Eru, tanto que o velho sábio em uma postura de altivez, digna de tal arquétipo diz a Frodo: ´´Corram seus tolos!``
Tolos? Sim, pois não entendem a visão e o propósito da totalidade do Self. O grupo lamenta e seguem para o refúgio revitalizador da Floresta de Lothlórien, o reino da Dama da Floresta.
A Grande Mãe da Terra Média, a anima de Frodo, Galadriel.
O grupo recebe presentes dos elfos: as capas, as cordas e a luz de Erindim entregue a Frodo: ´´Que haja uma luz, para você no escuro quando todas as outras se apagarem.``
A Sociedade parte de Lórien. Boromir sucumbe frente ao desejo de poder e tenta se apossar do anel. Antes de morrer, porém, consegue se redimir: seu papel está cumprido na jornada.
Boromir fora destinado a dispersar os hobbits. Tal dispersão teve o objetivo de encaminhar Merry e Pippin aos Ents e Frodo e Sam até Mordor. Mais um vez vemos a atuação das Moîras.
Talvez uma frase de Gandalf sintetize bem o que ocorreu desta segunda parte em diante, até o fim  da jornada:
´´O que nos cabe é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.``
No livro de Salmos 139; 16 temos o seguinte versículo. ´´os teus olhos viram o meu corpo ainda informe.Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda.``
O versículo do Salmo 139, também nos dá um exemplo arquetípico da regência do Self sobre a psique.
O Self escreve o projeto, o ego o executa.