terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Análise Psicológica: As Duas Torres






História do Filme

O filme começa com Frodo e Sam caminhando em círculos, sem sair do local. Estavam passando pelos mesmos lugares, sem obter êxito em sua jornada rumo a Mordor, região onde se localiza a Montanha da Perdição.
Eles vinham sendo seguidos por Gollum e após um embate com o antigo portador do anel  o capturam. Aragorn, Legolas e Gimli seguiam o rastro de Merry e Pippin. Porém, os três se deparam com Éomer, líder do exército de cavaleiros de Rohan. Éomer e seus homens haviam sido banidos por Grima, conselheiro do Rei Theóden e servo de Saruman no reino de Rohan.
Na noite anterior os rohirins entraram em confronto com os orcs que detinham a posse de Merry e Pippin, tal acontecimento possibilitou a fuga dos hobbits para a Floresta de Fangorn. Seguindo os rastros deixados por Merry e Pippin, os três valentes adentram a Velha Floresta onde se encontram com Gandalf inesperadamente. Gandalf lhes conta que:
´´ Por fogo, água. Desde a caverna mais profunda, até o monte mais alto lutei contra Balrog de Morgoth``.
E assim, ele venceu o monstro e se tornou o  Mago Branco, uma evolução ao seu estágio anterior, anteriormente ele era o Mago Cinza. Gandalf diz que retornou para completar sua missão e que outros precisam de sua ajuda.
Merry e Pippin quando correram em direção a Fangorn foram pegos por Barbávore, um ent. Os ents são uma raça de árvores que ganharam vida devido a algo mágico presente nas águas do rio Isen.
Barbávore é o pastor e líder dos ents e diz que irá decidir em assembléia com os ents sobre o que ainda fará com Merry e Pippin.
Aragorn, Legolas, Gimli e Gandalf seguem em direção a Rohan, país governado pelo Rei Theóden, que se encontra em um estado muito debilitado  e sugestionável devido aos feitiços de Saruman e da influência perversa de Grima, antes conselheiro fiel do rei, agora servo de Saruman.
Os quatro membros da Sociedade chegam a Rohan, enfrentam hostilidade e entram em combate com a corte de Theóden em Meduseld, palácio real e residência do rei de Rohan. Gandalf consegue libertar Theóden do feitiço de Saruman.  O rei de Rohan toma conhecimento da destruição e perdas que seu reino sofreu durante o período em que esteve sob feitiço, Grima foge.
Enquanto isso, Frodo e Sam decidem o que irão fazer com Gollum. Frodo entende que Gollum que um dia se chamou Sméagol, ainda poderá ser útil.
Sam diz a Frodo para que tenham cuidado pois o antigo portador do anel é trapaceiro e não confiável. Frodo decide soltar Gollum com a condição de que este o guie até Mordor. Gollum concorda e aparentemente com o passar dos dias se torna mais amistoso e leal  a Frodo a quem o chama de ´´Mestre do Precioso``,  referência ao fato deste ser o portador do Um Anel.
Todo o povo de Rohan será atacado por Saruman e seus orcs e a recomendação de Gandalf e Aragorn é a de que Theóden permaneça em Rohan e lute contra o inimigo com o auxílio deles. Porém, o rei pretende conduzir todo seu povo para a fortaleza localizada no Abismo de Helm. Gandalf e Aragorn insistem que a decisão de levar o povo de Rohan até a fortaleza é uma decisão muito arriscada e que colocará em risco maior o povo. Mas, a soberania do rei prevalece. Gandalf parte, e avisa a Aragorn que retornará ele pede para que olhem para o leste ao alvorecer do quinto dia. Todo o povo é conduzido para a fortaleza do Abismo de Helm. A viagem é feita a pé incluindo crianças e idosos, de maneira lenta, o que coloca todas as pessoas em risco de um ataque da parte dos orcs servos de Saruman. O ataque ocorre e muitas pessoas morrem. Mas, a comitiva prossegue. Durante o ataque Aragorn, cai de um penhasco. Todos ficam abatidos pensando que ele havia morrido. Ao chegarem à fortaleza, começam os preparativos para a batalha contra os orcs e uruk-hais, orcs mais fortes e inteligentes. O contingente de homens é escasso e o massacre é tido como certo. Aragorn retorna para a surpresa, alegria e encorajamento de todos. A batalha se inicia.
Paralelamente, Gollum guia Frodo e Sam até a Montanha da Perdição. E quando já estão na entrada do portão de Mordor, os três acabam sendo rendidos e presos por Faramir, irmão de Boromir.
Faramir deseja tomar o anel para si, assim como seu irmão havia ambicionado.
Faramir os leva para Osgiliath, domínio de Gondor, os faz prisioneiros e interroga Frodo sobre qual o motivo dele estar nos domínios de Mordor e na companhia de Gollum. Frodo lhe responde que está em jornada pela destruição do Um Anel. A cidade de Osgiliath acaba sendo atacada pelas forças de Sauron que descobrem a presença do Um Anel e partem em busca de recuperá-lo. Faramir liberta Frodo, Sam e Gollum e os despede, entendendo o propósito da jornada daqueles hobbits. No Abismo de Helm, apesar da enorme desvantagem no combate Aragorn, Legolas, Gimli e Theóden lutam bravamente ao lado dos outros rohirins contra orcs e uruk-hais. É chegada  a aurora do quinto dia pós partida de Gandalf. E conforme o mago  havia prometido ele retorna e acompanhado de Éomer e o  exército de cavaleiros de Rohan. A batalha é triunfante para o povo de Rohan e aliados.
Em Fangorn, após ter sido realizado a reunião entre os ents, eles concluíram que Merry e Pippin não eram orcs e que não iriam ajudar na batalha pela Terra Média. Segundo Barbávore, nunca ninguém esteve ao lado dos ents e por este motivo eles também não estariam apoiando ninguém na guerra contra Sauron.
O líder dos ents diz que conduzirá os dois pequenos hobbits aonde quer que eles desejem ficar. Pippin inteligentemente pede para que Barbávore os leve ao sul, próximo a Orthanc, a torre de Saruman. O ent não entende acha estranho, mas acaba concordando. Quando Barbávore chega ao local determinado, ele se enfurece ao ver a obra de destruição de Saruman que matou muitos ents amigos seus. O pastor dos ents convoca todos os outros ents para marcharem em guerra contra as forças de Saruman.
Os hobbits conseguiram seu objetivo de introduzir os ents na Guerra pela Terra Média. Barbávore e seu exército de ents derrotam triunfalmente Saruman e seu exército. O rio Isen é libertado, alaga e destrói furiosamente as forjas de fundição de Saruman, derrotando os orcs.

  
Análise Simbólica

A importância da sombra.

O filme começa com Frodo e Sam caminhando em círculos,sem sair do local onde estavam, passando pelos mesmos lugares  e não obtendo êxito em sua jornada rumo a Mordor .Justamente porque ambos representam uma verdade unilateral do Self,ambos são funções racionais ; Frodo (pensamento) e Sam (sentimento).Falta a Frodo e Sam, a  complementação das funções irracionais, a sensação e a intuição personificadas em  Sméagol (sensação)/ Gollum (intuição).
´Ars totum requirit hominem!` (a Arte requer o homem inteiro!), exclama  um velho alquimista. Justamente é este ´homo totus` que se procura.
O esforço do médico, bem como a busca do paciente, persegue esse ´homem total` oculto e ainda não manifesto, que é  também o homem mais amplo e futuro.
No entanto, o caminho correto que leva à totalidade é infelizmente feito de desvios e extravios do destino. Trata-se da ´longissima via`, que não é uma reta , mas uma linha que serpenteia, unindo os opostos à maneira do caduceu, senda cujos meandros labirínticos não nos poupam do terror . Nesta via ocorrem as experiências que se consideram de ´difícil acesso` .Poderíamos dizer que elas são inacessíveis por serem dispendiosa, uma vez que exigem de nós o que mais tememos , isto é, a totalidade.
(JUNG, 1994, pár.20)

Sim, o caminho correto que leva a meta da individuação é feito de desvios e extravios do destino.
Frodo e  Sam continuariam em desvios e extravios de caminho ,caso não tivessem encontrado o seu lado oposto em Sméagol / Gollum.
Pois são justamente tais funções irracionais, perceptivas que podem guiá-los por caminhos escondidos e ocultos que levam até O Portão Negro, as funções de julgamento racionais desconhecem tais caminhos. O sentimento (Sam) pode até querer desprezar aspectos repulsivos (Sméagol / Gollum) em relação a si próprio, mas o pensamento é capaz de conviver com tais aspectos,pois entende que os mesmos são necessários em prol do objetivo da totalidade:
´´Sam (sentimento): Por que não o atamos e o deixamos para trás?
  Frodo (pensamento): Talvez ele mereça morrer, mas agora que o vejo tenho pena dele. ``
E assim como a pena segurou a mão de Bilbo, e governou o destino de muitos, a mesma situação se repete com Frodo. Frodo afirma que sem Sam ele não teria conseguido chegar tão longe, mas não conseguiria de forma alguma completar sua jornada sem  Gollum.
Mas aí, para se admitir isso, é necessário um esforço muito grande por parte da consciência em reconhecer a  importância da sombra.

Meduseld

Aragorn, Legolas e Gimli seguiam o rastro de Merry e Pippin. Porém, os três se deparam com Éomer  e seus homens que haviam sido banidos por Grima do reino de Rohan.Na noite anterior os rohirins entraram em confronto com os orcs que detinham a posse de Merry e Pippin, tal acontecimento possibilitou a fuga dos hobbits para a Floresta de Fangorn.
Seguindo os rastros deixados por Merry e Pippin, os três valentes adentram a Velha Floresta onde se encontram com Gandalf inesperadamente.
Gandalf lhes conta que:
´´ Por fogo, água. Desde a caverna mais profunda, até o monte mais alto lutei contra Balrog de Morgoth ``.
E o texto bíblico em Isaías 43,2 conta que:

Quando passares pelas águas, estarei contigo, e quando passares pelos rios, eles não te submergirão.
 Quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. (Isaías, 43, vers.2)

Nesta fala de Gandalf, encontra-se a representação do Self, Gandalf atingiu a totalidade. A conjunção de opostos está completa em Gandalf o Branco, é na virada da maré  que ele retorna aos que precisam de sua ajuda, sua missão não está completa .
Os quatro agora se dirigem a Rohan, pois o rei Théoden se encontra sob a influência de Grima Língua de Cobra. Então podemos ver que, a consciência fora tomada pelos aspectos obscuros do Inconsciente, a luz não se encontra no Ego de Théoden, mas na sombra. Grima personifica as forças destrutivas do inconsciente, a estória  não nos conta sobre a personalidade de Theóden anterior a possessão do arquétipo na consciência do rei dos rohirins,
Porém é muito provável que o mesmo adotava uma postura orgulhosa e onipotente, sempre buscando mais  poder, até que a atitude compensatória do inconsciente transformou Théoden ,em um simples fantoche. Caso contrário teria sido muito difícil ocorrer tal cisão conforme o acontecido.
O rei se tornou cego, rígido e petrificado diante dos desígnios e ordens de Grima.
O nome do palácio dourado do rei de Rohan têm um nome sugestivo, que parece transmitir um significado tanto da cegueira do momento vigente, como também de sua cura e libertação no futuro.
Ao separar o termo desta forma, Medus – eld encontramos um significado no presente e no futuro da neurose de toda Rohan.
O termo Medus, nos remete ao mito de Medusa, personagem a qual todo aquele que olhasse para ela se petrificava.
Théoden se tranfromou em uma estátua de pedra, sem individualidade alguma ao olhar para os conselhos de Língua de Cobra.
Este texto traz o significado simbólico da Medusa:
GÓRGONAS
Três irmãs, três monstros, cabeça aureolada de serpentes enfurecidas, presas de javali saindo dos lábios, mãos de bronze, e asas de ouro: Medusa, Euríale, Esteno.
Simbolizam o inimigo a abater. As deformações monstruosas da psique são devidas às forças pervertidas dos três impulsos: sociabilidade, sexualidade, espiritualidade.
Euríale seria  a perversão sexual,Esteno a perversão social; Medusa simbolizaria o princípio desses impulsos : o espiritual e evolutivo,mas pervertido em estagnação vaidosa.
Só se pode combater a culpabilidade originada da exaltação vaidosa dos desejos com um esforço no sentido de realizar a justa medida, a harmonia.
É isso que simboliza quando as Górgonas ou as Erínias perseguem alguém, à entrada no templo de Apolo, deus da harmonia, como num refúgio.
Quem via a cabeça da Medusa ficava petrificado. Não seria por refletir a Górgona a imagem de uma culpa pessoal? Mas o reconhecimento da falta, no contexto de um justo conhecimento de si mesmo, pode também perverter-se em exasperação doentia, em escrúpulos paralisantes de consciência.
Paul Diel observa com profundidade: A confissão pode ser- o é quase sempre – uma forma
Específica da exaltação imaginativa: um remorso exagerado. O exagero da culpa inibe o esforço reparador. Só serve ao culpado para refletir vaidosamente na complexidade, imaginada única e de profundeza excepcional, da sua vida subconsciente...
Não basta descobrir a culpa. É preciso suportar a visão dela de maneira objetiva, nem exaltada nem inibida (sem exagerá-la ou minimizá-la ). A própria confissão deve estar isenta de excesso de vaidade e de culpabilidade... A Medusa simboliza a imagem deformada do eu... que petrifica de horror ao invés de esclarecer na medida justa ( DIES, 93-97 ).
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1999, pg.476)




E, quanto ao termo eld, ele trás uma referência com a palavra inglesa Elder.
´´ELDER [ ´ elde ], s. Ancião ; antepassado; dignitário; chefe de uma tribo;oficial superior em algumas igrejas protestantes; (bot) sabugueiro. a . comp. de old, mais velho .``(SERPA, 1957, pg.476)
É bem claro sobre quem seja o Ancião da estória, Gandalf. Ele é justamente o oposto de Theóden.O rei  está cego e petrificado, nas sombras. Gandalf é o Branco, o que ilumina e trás a visão.O termo Meduseld,seria então uma referência a cegueira e imobilização de Theóden(Medusa), juntamente com a iluminação e transformação  que Gandalf ( Elder)
 trás a consciência nublada e obscurecida.
O termo Meduseld  encerra em si próprio o início e o fim da estória em ´´As Duas Torres``, pois o termo expressa como uma consciência nublada, indiferente em relação a seus próprios problemas e desafios e sem esperanças ( povo de Rohan / Ents) personificado por Théoden, passa a ter uma visão ampliada quando recebe a cura de sua cegueira pela relação restaurada com o inconsciente( Gandalf / Merry e Pippin).
A luz de Gandalf descendo a montanha cegou os orcs, que logo foram derrotados. Gandalf simboliza o arquétipo do Self, o homem total emana ´´luz própria, e por onde passa transforma os que estão ao seu redor.

 A transformação espiritual da humanidade ocorre de maneira vagarosa e imperceptível, através de passos mínimos no decorrer de milênios e não é acelerada ou retardada por nenhum tipo de processo racional de reflexão e, muito menos, efetivada numa mesma geração. Todavia, o que está a nosso alcance é a transformação dos indivíduos singulares, os quais dispõem da possibilidade de influenciar outros indivíduos igualmente sensatos de seu meio mais próximo e, às vezes, do meio mais distante.
Não me refiro aqui a uma persuasão ou pregação, mas apenas ao fato da experiência de que aquele que alcançou uma compreensão de suas próprias ações e, desse modo teve acesso ao inconsciente, exerce, mesmo sem querer, uma influência sobre o seu meio.
O aprofundamento e ampliação da consciência produz os efeitos que os primitivos chamam de ´mana`. O mana é uma influência involuntária sobre o inconsciente de outros, uma espécie de prestígio inconsciente, e seu efeito dura enquanto não for perturbado pela intenção consciente.(JUNG, 1999, pár. 50)





O Dique se rompe


Os orcs levavam consigo Merry e Pippin, pois a única informação que Mordor e Isengard tinham era de que  o Um Anel estava com um hobbit.
E assim, desta forma uma sequência de sincronicidades começam a promover mudanças marcantes na trajetória da trama.
O objetivo de Sauron e Saruman era obter o Um Anel, e desta forma a ordem era levar o hobbit vivo para concretizar tal meta.
Mas o que os orcs desconheciam, era que na verdade estavam ajudando os pequenos hobbits, levando-os mais próximos de Fangorn.
Da mesma forma Grima também ajudou os hobbits ao expulsar Éomer e seus cavaleiros de Rohan. Pois fora no momento do combate dos rohirins contra os orcs, que Merry e Pippin conseguiram fugir rumo a Floresta Velha.
O texto bíblico em Romanos 8; 28, fala sobre a sincronicidade de ações.
´´ Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. ``

Saruman também desejava apossar-se do Anel, para uso próprio, ou pelo menos capturar alguns hobbits para seus propósitos malignos. Então, agindo em conjunto, nossos inimigos só conseguiram trazer Merry e Pippin, numa velocidade espantosa, e no momento certo, até Fangorn, para onde eles nunca teriam vindo de outra forma. (TOLKIEN, 2001, pg.69)

Merry e Pippin são encontrados por Barbávore, o pastor do ents, antes de entrarem na Floresta, os hobbits comentavam sobre os ents, que teriam ganhado vida por conta de alguma coisa na água do rio.
Os ents sempre foram um povo pacífico e não muito sociáveis, não se relacionavam com as outras raças. Eram dissociados do que acontecia na Terra Média, sem preocupações, sem problemas, totalmente apáticos em relação à grande guerra que estava acontecendo.
Porém os ents não eram dissociados apenas em relação ao que acontecia na Terra Média, eram dissociados também em relação a si mesmos.
Barbávore racionaliza sua atitude e a de seu povo:
´´Não estou do lado ninguém, porque ninguém está do nosso lado. ``
Mas o propósito de Merry e Pippin em estar na Floresta, começaria a dar certo. Barbávore convoca os ents para um entebate, uma reunião dos ents, algo não muito comum de ocorrer.
A língua entês também é um idioma que se leva muito tempo para se dizer algo, quando utilizada para uma conversa.
E o diálogo também só é feito quando vale a pena, ou seja, o povo ent é um povo que reprime a função sentimento, priorizando a função pensamento.
A postura extremamente racional da consciência dos ents aparece nesta fala de Barbávore:
´´Os ents não podem deter esta tempestade. Devemos agüentar os acontecimentos como sempre fizemos. Esta guerra não é nossa.``
Mas o dique estava por se romper , não o dique do rio Isen, o rompimento do dique de Isen na verdade só irá ser ocorrer casso o dique do rio do inconsciente, se rompa e inunde a consciência dos ents com seus complexos carregados de afeto.
Não foi em vão que os jovens hobbits vieram conosco, mesmo que tenha sido apenas para o bem de Boromir. Mas esse não é o único papel deles. Foram trazidos a Fangorn e a chegada deles foi como a queda de pequenas pedras que iniciam uma avalanche nas montanhas. Neste momento em que estamos conversando, ouço os primeiros estrondos.
Será melhor para Saruman não ser pego fora de casa quando a represa explodir.
(TOLKIEN, 2001, pg. 68)
 
Esta é a missão dos hobbits, complementar as funções racionais caracterizadas nos ents. Merry personifica a função sensação, Pippin personifica a função intuição. Ambos representam as funções perceptivas irracionais, funções estas que até então faltavam a Barbávore e seu povo. Pippin(intuição) pede para o velho ent, levá-los ao sul ,para Isengard,onde está o rio Isen, onde será rompido o dique do inconsciente. Barbávore (pensamento) não entende o pedido do pequeno, mas  atende a demanda :
´´Sempre eu gostei de ir ao sul. De certa forma, é como descer colina abaixo``.
Esta é a catábase de Barbávore, sua descida ao sul, ao inconsciente. Lá o ent encontrará a função sentimento, que será a grande responsável pela marcha dos ents rumo a Isengard. O dique do inconsciente se rompeu inundando as consciências com seus complexos, antes frios e racionais, agora os ents marcham inflamados pelos sentimentos trazidos à tona.


O discurso de Barbávore agora é outro, pois ouve o rompimento da represa do inconsciente no momento em que vê (sensação) seus amigos ents mortos:
´´Tenho que me ocupar de Isengard esta noite com rodas e pedras. Os ents partem para a guerra. É provável que encontremos nosso fim. Que seja a última marcha dos ents. ``
O velho ent agora pegou os hobbits de volta, e colocou-os sobre os ombros outra vez, e assim eles foram orgulhosos à frente do grupo que cantava, com os corações palpitando e as cabeças erguidas. Embora tivessem tido expectativas de que alguma coisa ocorresse eventualmente, ficaram chocados com a mudança que ocorrera ao ents. Parecia abrupta como o estouro de uma correnteza há muito tempo estancada por dique. (TOLKIEN, 2001, pg.60)

O rio Isen antes represado, agora corre livre pelos ents. Por conta deste rompimento os ents libertam o rio Isen, este passa levando embora toda destrutividade unilateral, transformando tudo por onde passa.